Fotos: André Frutuôso
O afoxé é uma das manifestações mais antigas do Carnaval da Bahia, uma expressão direta da ancestralidade africana no Brasil: é festa, é luta, é política, é música e alegria. Com uma história que ultrapassou gerações, o Afoxé Filhos do Congo celebra no carnaval de 2019 seus 40 anos de folia e trabalho comprometido com a cultura afro-brasileira. Em seu primeiro desfile no Carnaval 2019, neste domingo, dia 03 de março, a agremiação contou com a presença da rainha Diambi Kabatusuila da República Democrática do Congo, que veio direto de Kinshasa, capital e maior cidade do país.
Ednaldo Santana Santos, conhecido como Nadinho do Congo, fundador e uma das lideranças do bloco, recebeu esta missão dada por Ogum para dar continuidade ao trabalho iniciado nos meados do século XIX no Engenho Velho de Brotas. Depois de pausas e interrupções ao longo da história, em 1979, o afoxé Filhos do Congo é fundado, na Baixa do Curuzú, saindo pela primeira vez no Carnaval de 1980. Atualmente, a agremiação é sediada na Fazenda Grande IV, Cajazeiras, e presidida por Lindinalva Silva.
“Os afoxés e os blocos afro têm o costume de preparar o nosso povo na dança, na capoeira, na música, no teatro, na pintura e também no empreendedorismo”, explica Nadinho do Congo. Segundo ele, é fundamental investir e valorizar a cultura de matriz africana e seu lugar dentro do carnaval de Salvador. “O afoxé é patrimônio imaterial da Bahia e é importante guardar essa consciência, do seu papel de preservação da capoeira, o candomblé e é por isso que exige o envolvimento de toda comunidade”, acrescenta.
Outro destaque do Carnaval dos Filhos do Congo é a Ala de Danças Sagradas, coordenada por Jasimmay Dandara, que estreia neste ano e aposta na reverência à ancestralidade dentro do território do carnaval. “As danças cantam e contam uma tradição. Vamos dançar por todas as gerações que nos trouxeram até aqui”, explica a dançarina, que se inspirou no diálogo com a rainha Diambi. “Ela nos trouxe reflexões do pensamento africano, em que não há separação entre as coisas. O equilíbrio vem da integração, reconhecendo que somos iguais. Especialmente na importância social da mulher. Ela lembrou que todas somos rainhas e que a mulher negra é a mãe da terra” adianta a coreógrafa.
A vereadora Marta Rodrigues (PT) é uma das dançarinas da nova ala: “Saio sempre no Filhos e Filhas do Congo, especialmente neste Carnaval. Celebramos os 40 anos desta que é uma das três gerações do bloco. É também um momento importante porque é um momento de discussão dentro da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia sobre a salvaguarda dos afoxés, que é fundamental para manutenção da tradição e do trabalho desses blocos , cujo trabalho é rico e precioso para as suas comunidades” explicou.
Também foliã de outros carnavais do afoxé, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial Fabya Reis marcou presença na saída do bloco e falou sobre a importância da continuidade do seu trabalho. “É um parceiro da propagação da mensagem do respeito à diversidade religiosa. É um bloco que enfrenta esse debate na sociedade, assim como a luta anti-racista. Além de uma explosão estética de beleza no Carnaval da Bahia, com toda a riqueza da herança africana”, afirma a gestora pública.