Em seu depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral na ação que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer, o empreiteiro Marcelo Odebrecht afirmou que a cervejaria Itaipava era uma das empresas usadas como “laranja” para o pagamento de doações a campanhas políticas que originalmente era da empreiteira. Segundo Marcelo, a Odebrecht “usava muito” a Itaipava para fazer doações oficiais sem que o nome da empreiteira se tornasse público, e depois “procurava um jeito” de reembolsar a cervejaria.
O uso da Itaipava como intermediária para doações da Odebrecht a políticos foi revelado pelo Estado em março de 2016, quando foi tornado público o conteúdo de planilhas encontradas pelos investigadores da Operação Lava Jato na casa do presidente de Infraestrutura da empreiteira, Benedicto Barbosa Silva Júnior.
A planilha indica pagamentos da Odebrecht a 279 nomes ligados a 24 partidos. Os números apontam que doações por intermédio da Itaipava teriam superado a cifra de R$ 30 milhões a 13 partidos, entre eles PT, PMDB e PSDB.
Um levantamento feito à época pelo Estado, comparando dados da planilha e das doações oficiais a campanhas dos respectivos políticos, mostrou que em diversos casos os valores são superiores aos declarados, o que aponta para indício de prática de caixa 2.
Quando o conteúdo das planilhas foi revelado, políticos citados nas listas de beneficiários negaram ter recebido recursos de forma irregular da Odebrecht. E, ao justificar as doações da empreiteira, alguns deles, como o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o ex-ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT) e o hoje ministro da Cultura, Roberto Freire (PPS), apresentaram recibos de doações oficiais em nome das empresas Leyroz de Caxias ou da Praiamar.
Aécio divulgou nota em que afirma que as doações citadas nas planilhas da Odebrecht foram legais e realizadas pela Leyroz de Caxias. Foram dois depósitos em 2010, que totalizaram quase R$ 1,1 milhão.