O penacho vermelho no figurino é adereço para tratar do tema do carnaval 2019 do Cortejo Afro. “Porque Oxalá usa Ekodidé” é o mote do bloco que desfila no segundo dia do carnaval de Salvador, no circuito Osmar (Campo Grande). Com diversas alas e uma percussão afiada, o bloco, conhecido como elegantemente sofisticado, trouxe de volta um Orixá como tema para a festa. Nos seus 21 anos de existência, o Cortejo Afro desfilou com apoio do programa Carnaval Ouro Negro 2019, promovido pelo Governo do Estado da Bahia.
“Não é qualquer Orixá. Estamos falando de Oxalá, Orixá da paz, pra convocar para essa energia de luz. Oxalá usando Ekodidé significa a humildade de voltar atrás, pedir perdão e ser humilde. Essa é a mensagem que queremos passar”, diz o artista plástico Alberto Pitta, presidente do bloco e criador da fantasia que conta toda a história sobre o tema do bloco desse ano. O curioso é que cada fantasia tem uma parte do mito africano e para ler ele completo é necessário juntar quatro foliões com fantasias diferentes.
E todo mundo sente orgulho de desfilar com o Cortejo Afro, desde foliões mais experientes como Cristóvão Correia, 45 anos e que há 08 anos sai no bloco, até Lorenzo Mateus que com apenas 14 anos já curte o Cortejo no Carnaval há três anos. Para Cristóvão, tudo é incrivelmente bonito. “É lindo demais fazer parte disso. Eu mesmo sempre dou um toque especial na minha fantasia para sair na Avenida”, relata. Já Lorenzo se diverte muito durante o percurso. “É parte da minha vida isso aqui já, sempre vim com meus pais”, relata o adolescente.
Pra te lembrar do Badauê – Uma das alas do Cortejo Afro tinha berimbaus, muita dança, além de personalidades políticas e artísticas. Se trata de uma homenagem ao mestre Môa do Katendê e ao Badauê, um dos pioneiros blocos afro de Salvador.
Um desses nomes importantes na homenagem é Carlos Santos, conhecido como Negrizu, o ‘moço lindo do Badauê’, cantado na música Beleza Pura, de Caetano Veloso. “É uma homenagem importante, principalmente depois da perda irreparável do nosso fundador Moa. É muito significativo estar aqui hoje”, disse Negrizu.
Jacira Bafafé, primeira cantora de bloco afro, acredita ser um momento histórico importante. “Necessário falarmos sobre o empoderamento feminino nos blocos afro e é isso que estamos fazendo aqui”, afirma. A cantora Mariella Santiago também reforçava o time ‘Pra lembrar do Badauê’. “Há cerca de 30 anos eu estava aqui nesse mesmo lugar no ombro de meu pai, acompanhando a vinda do desfile do Badauê do Engenho Velho de Brotas para o Centro. Estar aqui é acompanhar a vanguarda, se reconectando com a ancestralidade”, acredita a cantora.
A família do Mestre Môa também acompanhava o desfile. Jesse Mahi, filha de Môa, se disse emocionada em participar dessa homenagem. “Eu não cheguei a acompanhar o Badauê, mas pelo impacto que esse bloco tem na cultura do nosso povo é muito simbólica essa homenagem. Meu pai era do Carnaval, da festa, estamos honrando a memória dele hoje no Cortejo”, lembra Jesse.
E tem mais Ouro Negro
Hoje só foi o primeiro dia de desfile do Cortejo Afro no Carnaval 2019. O bloco elegantemente sofisticado passará no domingo (03/03) e na segunda-feira (04/03) no circuito Dodô (Barra/Ondina), a partir das 21h.
Carnaval da Cultura – É o carnaval dos blocos afro, de samba, de reggae e dos afoxés, apoiados por meio do Edital Ouro Negro para desfilar nos três principais circuitos da folia: Batatinha, Dodô e Osmar. É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval do Pelô, que abraça o carnaval de rua, microtrios e nanotrios, além de promover nos palcos grandes encontros musicais e variados ritmos numa ampla programação. Tem Afro, Reggae, Arrocha, Axé, Antigos Carnavais, Samba, Hip-hop e Guitarra Baiana, além de Orquestras e Bailes Infantis. Promovido pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura (SecultBA), o Carnaval da Cultura é da Bahia. O Mundo se Une Aqui!