Testes em animais feitos no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP revelaram que o agonista canabinoide ACEA recupera o prejuízo de memória e evita a morte de neurônios. O estudo foi feito em modelos que simulam o início da doença. Agonistas canabinoides são substâncias quimicamente semelhantes aos compostos extraídos da maconha e aos endocanabinoides (produzidos naturalmente pelo corpo humano).
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa cujas causas ainda representam um desafio para a ciência – 95% dos pacientes têm o tipo esporádico da doença, que aparece por motivos desconhecidos, enquanto os outros 5% são de origem genética. Pesquisadores do ICB utilizaram um composto canabinoide feito em laboratório, o ACEA (Araquidonil-2′-cloroetilamida), para tratar animais com Alzheimer e verificaram que os danos de memória são recuperados. O artigo foi publicado na revista científica Neurotoxicity Research.
A coordenadora do estudo, professora Andréa da Silva Torrão, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, explica que a intenção era estudar a fase inicial da doença. Atualmente, a hipótese mais aceita entre os pesquisadores é que o acúmulo do peptídeo beta-amiloide no cérebro está relacionado ao Alzheimer – assim, outros estudos costumam induzir diretamente o aumento desse peptídeo. No entanto, segundo Andréa, há pesquisas que indicam que nem sempre a proteína está relacionada à doença.
No nosso caso, injetamos a droga estreptozotocina (STZ) no cérebro dos animais para simular a condição. A substância provoca uma deficiência no metabolismo dos neurônios, o que poderia preceder a deposição do beta-amiloide”, explica a professora. Em seguida, o grupo aplicou nos animais um teste de memória: o teste de reconhecimento de objetos. “O rato é naturalmente curioso e explora tudo. Quando colocamos um objeto novo, os animais controle percebem e exploram mais aquele local. Já os ratos com Alzheimer continuam explorando todo o ambiente por igual”. O teste é repetido uma hora depois e também no dia seguinte, para avaliar a memória de curto e longo prazo.