“A crise, juntamente com o Uber, está acabando com a categoria dos taxistas em Salvador. Não somos contra a Uber, mas o sistema tem que ser regulamentado, até porque os próprios motoristas dele são escravos.” As declarações, em tom de desabafo, foram feitas à Tribuna pelo porta-voz do Sindicatos dos Condutores Autônomos de Táxis de Salvador (Sinditáxi), Marcelo Rosas.
Segundo ele, há, inclusive, empresas de táxi que possuem, por exemplo 60 veículos alugados a motoristas e que já perderam 10 carros, devolvidos por pura falta de condições de pagamento da mensalidade. Marcelo, que aguarda uma resposta oficial da Desenbahia em relação à crescente inadimplência dos taxistas que compraram seus carros financiados, não titubeia: ele estima que o percentual dos que não têm conseguido pagar as mensalidades “já está em torno de 40%.”
O porta-voz do Sinditáxi ressalva, porém, que a categoria “não é contra o Uber. O que queremos é Justiça, ou seja, que eles pelo menos sejam regulamentados como nós e paguem taxas e impostos. Até porque acho que os motoristas do aplicativo são escravos, já que cobram baratíssimo e ainda têm que repassar 25% para o Uber.”
IRREAL
Para exemplificar seu argumento de que o preço cobrado pelos motoristas do Uber “é irreal”, Marcelo narra que “um cidadão, residente na Vila Laura, pegou um carro do aplicativo para dirigir-se ao Comércio, na altura da Conceição da Praia. O motorista enfrentou 42 minutos de engarrafamento, com o ar condicionado ligado, e cobrou R$ 5, isto mesmo, cinco reais, pela corrida. Ou seja, como ter lucro se ele gastou combustível e tempo dessa forma.”
Ele acrescenta que “tem muita gente alugando carro em locadora, pagando entre R$ 1.300 e R$ 1.500 por mês, para dirigir para o Uber. O pior é que, a partir de cinco mil quilômetros rodados, essas locadoras passam a cobrar por quilômetro rodado.”
SITUAÇÃO CRÍTICA
No entanto, Marcelo reconhece que nem só o Uber tem provocado a “tremenda crise” pela qual passam os taxistas de Salvador. A situação econômica do País também um fator de peso. “O problema chegou a tal ponto que, aqui na sede do sindicato, recebemos quase diariamente visitas de taxistas chorando, lamentando a situação. Até esposas de taxistas já nos ligaram, fazendo apelos, pois dizem que o orçamento doméstico desabou.”
No entanto, entre os usuários de táxis, há controvérsias. A maioria alega que os preços baixos do Uber são mesmo um atrativo, ainda mais em tempos de crise. Maria Ângela Rodrigues, secretária, por exemplo, diz que passou a adotar o aplicativo “depois que descobri que uma corrida, que faço quase sempre, do Garcia para a o Comércio. Custa entre R$ 8 e R$ 10, no Uber, enquanto no táxi normal eu pagava até R$ 15, a depender do trânsito.”
*tribunadabahia