A ponte de Nassau, o boi voador e o cancelamento da Fenagro

“Quem foi, quem foi
Que falou no boi voador
Manda prender esse boi
Seja esse boi o que for”
(Boi Voador Não Pode, de
Chico Buarque e Ruy Guerra)

Os anos se passavam e nada da prometida construção da ponte começar. Tanto que o povaréu começou a dizer que era mais fácil um boi voar do que a ponte ser construída – não todo mundo, é claro, mas o pessoal da galera do mal, cuja língua ferina é temida pelos governantes, em qualquer tempo ou local, como se verá.

Não, meu caro e apressado leitor, não estou falando da anunciada ponte Salvador-Itaparica, que também parece não querer sair do papel. Velha promessa que já está sendo reembalada cuidadosamente pelo marketing para ser peça de resistência da campanha do candidato governista a prefeito de Salvador nas eleições do próximo ano. Já antecipo o mote: “Vote em mim, que a ponte sai!”. Quem viver verá.

Estou falando da ponte sobre o Rio Capiberibe prometida por Maurício de Nassau, o chefão da Companhia das Índias Ocidentais na área dos domínios conquistados pelos holandeses no Brasil, no início do século XVII. A ponte ligaria o istmo do Recife, onde ficava o porto, à Ilha de Antonio Vaz, onde foi construída a Cidade Maurícia ou Mauricéia (Mauritzstad, na língua deles), para ser a capital do império holandês no Brasil – expulsos os invasores, em 1654, o nome Cidade Maurícia foi abandonado.

A demora na construção da ponte de Nassau acabou sendo menor que a língua do povo: anunciada em 1641, ficou pronta em 1644 – só para efeito comparativo, sem nenhuma outra intenção: a ponte Salvador-Itaparica foi anunciada em março de 2009 pelo então governador Jaques Wagner, já se vão quase 15 anos.

Nassau, que investira recursos do próprio bolso para concluir a obra, anunciou que iria fazer um boi voar na inauguração da ponte. Chegado o dia, mandou levar um boi manso até o alto de uma das cabeceiras da ponte, de onde o animal pôde ser visto pela multidão, antes de ser colocado em uma área fechada. Lá, longe dos olhos dos eleitores, digo, dos olhos dos pernambucanos, o animal foi substituído por um boi falso, confeccionado com chifres e um couro bovino recheado com capim e ervas.

Usando um sistema de cordas e roldanas fizeram o boi “voar” de um lado a outro da ponte, arrancando vivas da multidão – e também uma boa grana, com a cobrança de pedágio das pessoas que passavam de um lado para outro da ponte.

Na semana passada, o governo da Bahia, por meio da Secretaria da Agricultura, desde janeiro comandada pelo ex-deputado estadual Walisson Oliveira Torres, mais conhecido como Tum, fez voar não apenas um boi, mas pouco mais de dois mil animais, entre bovinos, equinos, caprinos, ovinos e outros de pequeno porte.

Tum anunciou o cancelamento da 33ª edição da Fenagro, a Feira Nacional da Agropecuária, que estava marcada para acontecer entre os dias 23 deste mês e 3 de dezembro. Seria o retorno da feira, após um período de recesso por conta da pandemia – a última Fenagro foi em 2019.

O cancelamento repercutiu negativamente junto aos empresários da cadeia produtiva da atividade agropecuária, desde a criação à indústria e comercialização de insumos e equipamentos para o setor, que esperavam realizar negócios na ordem R$ 150 milhões na feira. Com isso, ampliaram-se ainda mais as dificuldades de diálogo do governo estadual com o agronegócio baiano, que já eram muitas.

Em nota emitida no dia 24 de outubro, a secretaria alegou que o cancelamento foi determinado por questões administrativas e estruturais do Parque de Exposições e também pela falta de tempo hábil para superar os entraves burocráticos.

Seis dias depois, em almoço com alguns deputados, Tum disse que o motivo real do cancelamento foi a falta de dinheiro. Explicou que, apesar do nome longo e pomposo – Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura – a pasta anda à míngua, pois teve seu orçamento esvaziado, caindo de R$ 200 milhões no ano passado para modestos R$ 5 milhões este ano, como resultado do fortalecimento da Secretaria de Desenvolvimento Rural, tida como a menina dos olhos do governo petista.

Um dos argumentos apresentados pelo governo para o cancelamento da feira – a falta de tempo hábil – não se sustenta. Tradicionalmente, a Fenagro é realizada no final de novembro. O secretário Tum tomou posse no dia 3 de janeiro. Ou seja, teve nada menos que dez meses para resolver os tais entraves burocráticos. Se não conseguiu fazê-lo não foi, portanto, por falta de tempo.

Já quanto às dimensões dos problemas estruturais do Parque de Exposições, o secretário nem tchum. Seria de bom tom, porém, que ele deixasse claro para a população – e sobretudo para os criadores que se preparavam para trazer animais a Salvador na esperança de fazer bons negócios – que o equipamento está completamente abandonado, sem qualquer manutenção.

Por várias vezes, aliás, o governo tentou desfazer-se do parque. Uma das últimas, anunciada pomposamente pelo então governador Rui Costa, seria a entrega da área a um grupo privado em troca da construção de um novo centro de convenções no local. A barganha não se concretizou porque o grupo não conseguiu arrebanhar investidores para o mega projeto de ali instalar um complexo que além do tal centro de convenções teria também um hotel, um hospital, um shopping center e o que mais coubesse na área de 450 mil metros quadrados. Bobeasse o governo e ali seria também montado um daqueles parques tipo Disney, certamente dedicado ao Touro Ferdinando.

Um mínimo de transparência – qualidade bastante apregoada na propaganda oficial, mas inexistente na prática do governo– mostraria que o Parque de Exposições segue a mesma trilha aberta pelo Centro de Convenções, hoje uma ruína, como resultado da falta de manutenção, e que prossegue com o Teatro Castro Alves, fechado desde fevereiro passado, por conta de problemas estruturais decorrentes do mesmo motivo: a falta de zelo com o patrimônio público.

Se fosse apenas a falta de dinheiro, bem que o secretário Tum poderia recorrer ao estratagema idealizado há quase cinco século por Maurício de Nassau e cobrar pedágio para quem se dispusesse a ir ao abandonado Parque de Exposições para ver os bois voarem. Certamente obteria mais ganho que o irrisório valor cobrado pelo governo aos promotores de shows de música no local.

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