“É um tempo de guerra
É um tempo sem sol
Sem sol, sem sol, tem dó!
(Eu Vivo Num Tempo de Guerra, de
Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri)
Era pra ser só festa. Depois de quatro décadas peregrinando pelas gavetas do Congresso, finalmente a tão falada reforma tributária saiu do papel e virou lei, promulgada nesta quarta-feira, 20, em sessão no plenário da Câmara dos Deputados com as presenças dos presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva; do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco; da Câmara dos Deputados, Arthur Lira; e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.
“Guardem essa foto e se lembrem que, contra ou a favor, vocês contribuíram para que esse país, na primeira vez no regime democrático, aprovasse uma reforma tributária a contento da nação brasileira”, disse Lula, ao discursar, referindo-se ao momento em que ele, Rodrigo Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira, posaram exibindo a cópia da promulgada emenda à Constituição que altera o sistema tributário do país a partir de 2026.
Não estava errado, o presidente. É, de fato, uma foto histórica. Mas o que ganhou as redes sociais nos dias que se seguiram foram outras imagens daquela sessão do Congresso Nacional. Nelas, o deputado Washington Quaquá (RJ), um dos vice-presidentes nacionais do PT, aparece desferindo um sonoro tapa no rosto do também deputado Messias Donato (Republicanos-ES).
O entrevero ocorreu em meio à disputa de claques que se estabeleceu após a entrada de Lula no recinto. De um lado, partidários do presidente gritavam “Lula, guerreiro, do povo brasileiro” e cantavam o tradicional “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”. Do outro parlamentares oposicionistas replicavam: “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”.
Quaquá foi tirar satisfação dos colegas bolsonaristas. Dirigiu-se ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), a quem chamou de “viadinho”, dizendo que iria representar contra ele no Conselho de Ética. Foi repelido por Donato, que segurou em seu braço e recebeu uma bofetada no rosto.
“Dei uma, dou duas e dou três, não tem problema nenhum”, admitiu Quaquá, mais tarde, alegando que foi empurrado pelo colega. “Se me agredirem, eu agrido eles. A esquerda é muito passiva com a violência da direita. Comigo a porrada canta”, acrescentou.
A reação do vice-presidente do PT é um indicativo do clima que se deve esperar nas próximas eleições municipais, ao menos nas grandes cidades. No início deste mês, o próprio presidente Lula estimulou a militância do partido a nacionalizar a disputa nas eleições municipais de 2024, repetindo a fórmula do “nós contra eles” usada na eleição presidencial de 2022.
Em discurso na Conferência Eleitoral do PT, realizada em Brasília, no dia 8 passado, Lula disse que a polarização entre ele e o ex-presidente Jair Bolsonaro deve permanecer no embate eleitoral do próximo ano e pediu que os petistas encarem a oposição:
“Não pode aceitar provocações, nem ficar com medo.
Não pode enfiar o rabo no meio das pernas. Quando o cachorro late para a gente, a gente não baixa a cabeça, a gente late para ele também”, ensinou, dando o tom de como os petistas devem se comportar frente aos adversários.
O deputado Washington Quaquá apenas seguiu a receita.
Avizinha-se um tempo de guerra. Sem sol e sem dó.