De como o Dois de Julho está se transformando em uma manifestação chapa-branca

“Menino, menino
É dois de julho, é dois de julho
Cadê, cadê a família do barulho
Pra festejar?”
(Reggae da Independência, de Jorge Alfredo,
Chico Evangelista e Antonio Risério)

Para muitos baianos, o Caboclo e a Cabocla, que têm suas imagens conduzidas pelas ruas de Salvador no cortejo do Dois de Julho, são divindades tais e quais os orixás do candomblé. Só não vieram da África, como Oxalá e Iansã, como Xangô e Oxum, como Oxóssi e Iemanjá, como Exu e Nanã, como todos os integrantes do vasto panteão dos deuses da tradição dos orixás.

O Caboclo e a Cabocla são mais que uma representação simbólica dos baianos que lutaram para expulsar as tropas portuguesas, consolidando na Bahia a Independência do Brasil. Eles são entidades às quais muitos baianos recorrem em busca de ajuda e proteção – assim como recorrem a Jesus Cristo, a Santa Bárbara, a Santa Dulce e aos orixás que aqui chegaram, trazidos da África nos porões dos navios negreiros.

Durante a passagem do cortejo do Dois de Julho – que faz o mesmo trajeto percorrido pelo Exército Libertador ao entrar na cidade abandonada pelos derrotados portugueses – os carros com o Caboclo e a Cabocla são cercados por populares que querem tocar nas imagens e fazer pedidos de graças.

Cabe aos integrantes do Batalhão Quebra-Ferro a tarefa de puxar e frear, na mão grande, como dizem os baianos, os carros que levam o Caboclo e a Cabocla pelas ruas estreitas e enladeiradas percorridas pelo cortejo que celebra a vitória brasileira nas lutas pela Independência. Não é uma tarefa fácil. Mas, para eles, é um privilégio e uma graça. Alguns cumprem a missão há várias décadas, com a mesma reverência e enorme dedicação.

Os homens do Batalhão Quebra-Pedra vão a pé, como os demais participantes do cortejo. Vão embaixo. No alto, sobre os carros, apenas o Caboclo e a Cabocla. Foi assim por 200 anos, desde a primeira vez que o cortejo para celebrar os heróis baianos da Independência se formou.

Daí o espanto de alguns com a introdução de uma nova “tradição” no cortejo, “inaugurada” no ano passado e que se repetiu esse ano: a incorporação ao desfile de veículos para conduzir em carro aberto algumas privilegiadas autoridades, que não podem – não querem, é o termo certo – misturar-se à patuleia que segue a pé. Seguem do alto, pairando sobre a multidão, distribuindo acenos e beijos.

Mas esse é, na verdade, apenas mais um elemento – o mais vistoso, certamente, e o mais criticado pelos tradicionalistas – de um processo que vem crescendo nos últimos anos e que visa transformar uma das mais autênticas e espontâneas manifestações da baianidade em um movimento chapa-branca, inteiramente controlado pelos que detêm o poder.

Uma das formas dessa manipulação é a crescente presença de “fardados” no cortejo, com a ampla distribuição de milhares de camisetas padronizadas entre os funcionários públicos com a recomendação, não escrita, mas verdadeira, da obrigatoriedade de comparecimento de todos para formar a claque encarregada de aplaudir e dar vivas à passagem dos carros conduzindo as autoridades.

Sufoca-se, assim, a histórica participação popular na festa – certamente a sua mais preciosa característica. Perde-se a espontaneidade das manifestações individuais. Empobrece-se a baianidade.

Apequena-se o sentido histórico do cortejo.
Mas, a história é escrita pelos vencedores, diz a famosa frase atribuída ao escritor inglês George Orwell, autor de 1984, um dos livros mais famosos de todos os tempos, sobre um regime totalitário no qual a população é vigiada constantemente – a obra fala de temas como opressão, controle governamental, propaganda política e revisão histórica.

Tudo a ver. O Dois de Julho, seu significado para os baianos, sua importância na formação da baianidade, seu caráter de manifestação democrática e símbolo das lutas pela liberdade, contra a opressão, tudo isso está sendo reescrito. Pelos vencedores.

O povo? Que vá chorar no pé do Caboclo.

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