O narcotraficante Fhillip da Silva Gregório, de 37 anos, conhecido no mundo do crime como “Professor”, foi encontrado morto na noite de domingo (1º), dentro de uma casa no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. A primeira versão apresentada à polícia foi surpreendente: suicídio. A principal testemunha do caso é a amante dele, uma jovem de 25 anos que estava no local e presenciou os últimos momentos do criminoso. As informações são do g1.
Segundo a jovem, identificada apenas como Gabi, ela foi chamada por “Professor” para conversar sobre uma possível reconciliação. Ele não estaria na casa quando ela chegou, mas, após algum tempo, apareceu alterado, aparentemente embriagado. Ainda de acordo com o depoimento, o traficante começou a ofendê-la com palavrões, quebrou seu celular e, em seguida, surgiu com uma arma na cintura.
Em relato à Polícia Civil, a jovem contou que tentou acalmá-lo e chegou a se ajoelhar, pedindo para ser deixada em paz. Foi nesse momento que, segundo ela, Fhillip pegou a arma, apontou para a própria cabeça e disse: “Quer ver eu me matar por sua causa?”. Após uma breve pausa, puxou o gatilho e caiu no sofá. A jovem afirma ter corrido para buscar ajuda, mas acabou sendo retida por outros traficantes do morro, antes de ser liberada para relatar o ocorrido à polícia. Ela entregou a arma do crime às autoridades.
Apesar da versão de suicídio, investigadores não descartam outras hipóteses. A morte de uma figura tão estratégica para o Comando Vermelho levanta suspeitas sobre possíveis disputas internas.
O “Professor” do crime
Figura influente dentro da facção, Fhillip Gregório era mais que um “dono do morro”. Ele era o cérebro por trás da logística de armas e drogas que abastecia comunidades inteiras controladas pelo Comando Vermelho. Responsável por negociar diretamente com contrabandistas internacionais, “Professor” era tido como peça-chave na engrenagem do tráfico carioca.
Preso em 2015 com 100 kg de cocaína, foi condenado a 14 anos por tráfico e associação criminosa. Em 2018, após receber o benefício da Visita Periódica ao Lar, nunca mais retornou à prisão. Desde então, estava foragido, mas longe de se esconder.
De sua mansão na favela da Fazendinha, onde construiu uma piscina, um centro estético clandestino e até uma sala de cirurgia improvisada, ele continuava a comandar um império. Chegou a realizar procedimentos estéticos, como lipoaspiração, implante capilar e até a retirada de uma bala alojada na cabeça.
Um império de R$ 1,2 bilhão e 43 mil armas
Relatórios da Polícia Federal apontam que Fhillip movimentou, em apenas três anos, cerca de R$ 1,2 bilhão com o comércio de armas. Estima-se que ele tenha facilitado a entrada de mais de 43 mil fuzis e pistolas no Brasil, com fornecimento direto do argentino Diego Dirisio — considerado o maior contrabandista de armas da América Latina.
Interceptações telefônicas mostraram que havia envolvimento de policiais militares no esquema. Em troca de propina, PMs protegiam as operações e até reclamavam dos valores pagos: “Favela grande, só manda isso?”, disse um dos agentes.
Caridade como blindagem
Apesar de seu histórico violento, o “Professor” buscava respaldo popular. Financiava bailes funk, shows de pagode, distribuía brinquedos e pagava tratamentos médicos para moradores. Para a PF, essas ações eram parte de uma estratégia para fortalecer sua imagem como “líder do povo” e garantir proteção popular diante das constantes investidas policiais.
