A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, foi denunciada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) sob acusações de envolvimento com uma facção criminosa, articulações políticas e facilitação de fuga em massa. O caso expõe uma rede de favorecimentos que inclui o ex-deputado federal Uldurico Jr. (MDB) e o vereador Cley da Autoescola (PSD).
Segundo o MP-BA, Joneuma usava sua posição para beneficiar politicamente aliados em troca de proteção e poder dentro do sistema prisional. A denúncia afirma que ela intermediava encontros clandestinos entre o líder da facção Primeiro Comando de Eunápolis, conhecido como Dadá — com quem mantinha uma relação amorosa — e políticos locais. Os encontros, que aconteciam dentro do presídio, tinham o objetivo de garantir votos de presos e seus familiares, em troca de apoio financeiro e promessas de regalias.
Cada voto, conforme descrito na denúncia, era recompensado com R$ 100 em dinheiro vivo. O grupo de eleitores “cativos” era formado por presos provisórios com direito ao voto, além de amigos e familiares desses internos. O esquema teria sido montado para fortalecer a base eleitoral de Uldurico Jr. e seus aliados.
Além do apoio eleitoral, Joneuma teria usado a influência política de Uldurico para nomear e exonerar servidores do presídio. Entre os afastados estavam assistentes sociais, dentistas, advogados e psicólogos que não aceitavam os desmandos da gestão. Uma das nomeações foi da própria irmã de Joneuma, Joceuma Silva Neres, como advogada da facção.
Relação com Uldurico
A denúncia também aponta que Joneuma e Uldurico mantiveram um relacionamento amoroso. Em abril, a ex-diretora entrou com um processo de “alimentos gravídicos” contra o ex-deputado, alegando que ele é pai de seu filho. No processo, foram anexadas fotos, imagens do casamento dos dois e um teste de DNA. O ex-parlamentar, no entanto, afirmou em entrevista ao BATV que prefere não comentar o caso, mas tem “pressa” para realizar o exame de paternidade.
Fuga em massa e pagamento milionário
Outro ponto central da denúncia é a fuga de 16 detentos da cela 44, registrada em 12 de dezembro de 2024. O MP-BA afirma que Joneuma facilitou a ação em troca de R$ 1,5 milhão pagos pela facção. A operação contou com o uso de uma furadeira a bateria, percebida dias antes por um supervisor, que foi impedido de agir pelos detentos. O coordenador de segurança, Wellington Oliveira Sousa, aliado de Joneuma, também teria se omitido deliberadamente.
A ferramenta foi recolhida somente após três dias, quando a escavação já estava quase concluída. Joneuma teria guardado a furadeira na sala da diretoria e instruído Wellington a ocultar provas e apagar registros. Após a fuga, nove criminosos fortemente armados invadiram o presídio, mataram um cão de guarda e atiraram contra agentes penitenciários. O grupo usava armamento pesado, como fuzis AK-47, Parafal e AR-15.
O MP-BA também acusa Joneuma de elevar o status de pelo menos 12 internos ligados à facção, permitindo que circulassem livremente pelo presídio e transportassem armas brancas e objetos proibidos, inclusive durante uma suposta mudança de pavilhão.
Tentativa de fuga para o Rio de Janeiro
A denúncia aponta ainda que Joneuma planejava fugir para o Rio de Janeiro com Dadá, onde o casal ficaria sob proteção da facção Comando Vermelho (CV), aliada ao grupo criminoso baiano. A estratégia visava escapar da investigação e continuar a atuar no crime organizado.
Com base nas investigações, o MP-BA solicita que os envolvidos respondam por diversos crimes, incluindo associação criminosa, corrupção, facilitação de fuga e tentativa de homicídio de um agente penitenciário.
A denúncia marca um dos episódios mais graves de corrupção dentro do sistema prisional baiano, envolvendo diretamente o poder político, o crime organizado e a estrutura do Estado.