A trajetória de Preta Gil é, antes de tudo, uma narrativa de coragem, afeto e resistência. Filha do baiano Gilberto Gil, ícone da cultura brasileira, e da empresária Sandra Gadelha —, ela cresceu entre os palcos e os bastidores da arte. Construiu sua identidade própria enfrentando preconceitos e abrindo caminhos.
Desde cedo, desafiou os padrões impostos pela sociedade. Enfrentou a gordofobia, recusando-se a reduzir sua existência a estereótipos. Inúmeras declarações tocaram, foram certeiras: “meu corpo pode não ser escultural, mas meu coração e minha alma são muito bons”.
Preta também foi figura preponderante na luta contra o racismo e a misoginia. Sua presença pública sempre foi um ato político. Ao mesmo tempo, Preta Gil cultivou a lealdade. Sua amizade com figuras como Ivete Sangalo, Márcio Victor, Carolina Dieckmann, Gominho e outros tantos, mesmo diante das dores e exposições, mostrou que o afeto verdadeiro resiste às tempestades. Durante sua luta contra o câncer, demonstrou uma força e uma fé que inspiraram o país.
E é impossível falar de Preta sem lembrar da canção “Drão”, composta por seu pai em homenagem à mãe dela, Sandra Gadelha. A música, carregada de afeto, gratidão e delicadeza, fala do fim de um amor que foi grande, mas que precisa seguir outro caminho — sem ódio, sem mágoa, apenas com lembranças e respeito. “Drão, o amor da gente é como um grão, uma semente de ilusão…”, canta Gil, num tom de despedida serena e poética. Pai e filha cantaram juntos a música em abril desse ano. Um momento de esplendor e lágrimas, que também ativa outros gatilhos, como por exemplo o momento atual que o país e o mundo enfrentam. Precisamos de tanto ódio e guerras? Não por acaso a partida de Preta promoveu essa onda comoção.
Preta cresceu com essa canção como pano de fundo — e, talvez, por isso mesmo, aprendeu desde cedo que amor, respeito, amizade e coragem não se dissolvem com o tempo. Eles se transformam, florescem de outras formas.
A história de Preta Gil, que deixa o mundo aos 50 anos, no domingo de 20 de Julho, Dia da Amizade, é uma lição sobre resiliência, autenticidade e amor próprio. É também um lembrete de que, mesmo em um mundo que tenta nos enquadrar, a arte, a verdade e os vínculos genuínos sempre encontrarão uma maneira de se impor.