Em outubro de 2017, após 21 anos de disputa judicial, chegou aos cofres do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes a quantia de R$ 3,16 milhões para pagamento de indenização trabalhista a José Carlos de Almeida Saraiva, 62.
Só que, quase um ano depois, o dinheiro ainda não parou na sua conta.
Seu Almeida entrou com uma ação em 1996, após 20 anos de trabalho na Sociedade Técnica de Fundições Gerais, por problemas auditivos. O dinheiro -cujos valores históricos somavam R$ 1,8 milhão- foi depositado em 2009 e, finalmente, liberado no ano passado. Mas o metalúrgico nunca foi informado pelo sindicato.
Na semana passada, ao receber o ex-deputado Luiz Antonio de Medeiros em sua casa, no Jaraguá, o metalúrgico comemorou a chegada de uma boa notícia.
Seu Almeida é um dos 61 diretores do sindicato –com direito a salário que varia de R$ 10 mil a 12 mil, além de dois funcionários e um carro.
“A boa notícia é que o dinheiro foi depositado [na conta do sindicato]. A má é que o sindicato não te pagou”, respondeu Medeiros, segundo seu próprio relato.
“Fiquei surpreso. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer no sindicato que representa a gente”, comenta seu Almeida.
Em outro caso, 23 trabalhadores ganharam uma ação coletiva contra a Schindler no valor de R$ 2 milhões, fora honorários advocatícios. Após 25 anos de disputa, o dinheiro foi depositado na conta do sindicato em novembro de 2017. Em janeiro de 2018, a entidade alegou à Justiça ter localizado apenas cinco trabalhadores, aos seria destinado cerca de R$ 800 mil, ao todo.
O restante ficou nos cofres do sindicato, que é filiado à Força Sindical. Filha de um dos beneficiários -José Hugo da Silva, morto em 2009- Vanessa Aparecida da Silva diz que a família nunca mudou de endereço. E lamenta que o pai tenha morrido sem saber de sua vitória na Justiça.
Na quarta-feira (12), Medeiros entrou com uma representação no Ministério Público Estadual contra o sindicato que também dirige.
Na representação, Medeiros também lista os benefícios dos diretores, como o salário de seus funcionários, um de R$ 5 mil e outro de R$ 7 mil.
O ex-deputado também acusa a direção da entidade não repassar o INSS e o Imposto de Renda retidos na fonte, nem de realizar assembleias.
Ele diz ainda que, em 2014, a informação foi de que o sindicato mantinha R$ 86 milhões em caixa. E que, no mês passado, a diretoria da entidade foi informada de que não havia mais dinheiro em conta.
Entre as suspeitas que levou ao Ministério Público, Medeiros aponta a contratação de um escritório de advocacia a R$ 199, 3 mil mensais.
Além da denúncia levada ao Ministério Público, ele diz ainda que a reforma das instaladores médicas da entidade custou R$ 25 milhões.
E que nos últimos três anos, o sindicato gastou R$ 1,2 milhão de reais em viagens de seus diretores. A acusação de Medeiros causou reboliço no Sindicato, que convocou às pressas uma reunião para segunda-feira.
“O sindicato virou uma máquina de arrecadar, seja de qualquer forma. Perdeu o seu objetivo, que é representar o trabalhador”, acusa Medeiros.
O presidente do sindicato, Miguel Torres, que está em Bogotá, diz desconhecer qualquer irregularidade.
“Não tenho conhecimento de nenhuma irregularidade. Não tem registro de nenhum trabalhador e trabalhadora que procuraram o sindicato,o nosso jurídico, com ações ganhas e que não foi providenciado o pagamento. Voltando ao Brasil, vou tomar pé da situação”, disse.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Paulo e Mogi tem 150 mil empregados em sua base territorial, dos quais 24 mil pagam R$43 mensais ao sindicato.
A arrecadação das contribuições sindicais dá-se em duas formas. Em uma, há o desconto de duas parcelas de 2,5% do salário dos trabalhadores da categoria. Com informações da Folhapress.