A equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pretende fazer um pente-fino nas próximas semanas no que classifica como “aparelhamento” dos bancos federais nas gestões do MDB e do PT. As informações, segundo integrantes da transição, estão sendo levantadas por “grupos voluntários” de funcionários de carreira do Banco do Brasil (BB), da Caixa Econômica Federal (CEF), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Banco do Nordeste (BNB) e do Banco da Amazônia (BASA). Eles começaram a preparar relatórios sobre quem é quem em cargos com salários entre R$ 30 mil e R$ 60 mil.
A equipe do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e dos generais da reserva que atuam na organização do próximo governo solicitou formalmente um outro relatório: a lista de apadrinhados em toda a máquina pública, com destaque para os bancos. Esta triagem está sendo feita pela Secretaria de Governo, chefiada atualmente por Carlos Marun. A questão envolvendo as instituições financeiras é um assunto que começou a ser discutido após Bolsonaro apresentar os primeiros passos de seu governo.
O pente-fino nos bancos federais será feito a partir desses relatórios, com o objetivo de mexer nos cargos executivos – demitir não concursados e trocar funcionários de carreira nesses postos, afastando indicados políticos e até cortando funções para reduzir o quadro total. Em relação aos executivos de carreira, o novo governo também pretende diminuir benefícios, que acabam inflando os gastos totais.
Um dos alvos do pente-fino será o Banco do Brasil, onde há apadrinhados de políticos que ocupam cargos com salário de até R$ 61,5 mil. O grupo de funcionários que prepara um relatório sobre a situação do banco para apresentar à equipe de Bolsonaro está mirando especialmente executivos de carreira da instituição que foram nomeados durante os governos petistas e sobreviveram às “limpezas partidárias” de Temer.
Uma revisão total no BB pode atingir até indicados de grupos aliados do novo governo. Embora seja funcionário de carreira do banco, o vice-presidente de Agronegócio foi indicado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), entidade presidida por Tereza Cristina. Ele também passou pelo crivo do atual ministro Blairo Maggi. A entidade decidiu pela escolha de Marco Túlio Moraes da Costa, diretor de Agronegócio. Costa está no banco desde 1982 e passou por diversos cargos, incluindo o de superintendente regional em Sinop, no Mato Grosso. No município, ele manteve contato com as empresas da família Maggi.
Nos governos do PT, o Banco do Brasil passou por uma ampliação de sua estrutura de comando. Além de nove vice-presidentes (salário de R$ 61,5 mil cada) e 27 diretores (R$ 47,7 mil), a instituição criou 11 cargos de gerente-geral (R$ 47,7 mil) – a ampliação de diretorias para abrigar funcionários sintonizados com os partidos de sustentação do governo exigiria uma complexa mudança estatutária. As remunerações estão acima do teto do funcionalismo público de R$ 33,7 mil.
Os cargos de gerente-geral e diretor podem indicar, em média, quatro gerentes executivos, função com salário de R$ 36,3 mil. O gerente executivo indica em média quatro gerentes de soluções, com remuneração de R$ 24 mil cada. Todos os cargos descritos recebem ainda, a cada seis meses, entre dois e três salários por Participação nos Lucros e Resultados, o PLR.
Assim, a folha mensal de pagamento de salário dos 1.048 ocupantes de cargos executivos do banco tem um gasto total de R$ 28, 9 milhões. Funcionários que atuam na preparação de relatórios para a equipe de Paulo Guedes afirmam que o grande problema do aumento desses cargos foi a fixação de um “sombreamento” de funções, abrindo disputas entre vice-presidentes e diretores por executivos e áreas de atuação.