“Peguemos todas nossas coisas
E fomos pro meio da rua
Apreciar a demolição”
(Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa)
Não, não era uma casa velha, nem abrigava uma maloca qualquer, como aquela do icônico samba do paulista Adoniran Barbosa, um clássico do cancioneiro nacional e grande sucesso nas vozes do próprio compositor, do Demônios da Garoa, grupo liderado por ele, e de dezenas de outros intérpretes.
Era um palacete, mas, como no samba, abandonado, como se veria depois, quando o laudo emitido pelo Departamento de Polícia Técnica apontou que a queda de parte do prédio do Centro de Convenções da Bahia foi resultado da falta de manutenção.
Registremos logo: falta de manutenção, no caso, significa descaso dos governos, desleixo dos governantes, incompetência mesmo, para usar palavras suaves – a rigor, o abandono de um bem público como aquele poderia muito bem configurar crime de responsabilidade, pois, como é do conhecimento de todos, edifícios sem manutenção acabam indo ao chão. E foi o que ocorreu.
Só que o Centro de Convenções não era um prédio qualquer. Era o mais importante exemplar da chamada arquitetura high tech na Bahia. Seu projeto foi elaborado pelo escritório carioca MMM Roberto, responsável por alguns dos edifícios mais importantes da moderna arquitetura brasileira, que venceu o concurso público organizado pelo departamento baiano do Instituto dos Arquitetos do Brasil em 1975.
Mais dia menos dia o prédio acabaria tombado como patrimônio arquitetônico nacional ou, pelo menos, estadual, tal a sua importância – e ganharia, ao menos em tese, a proteção da lei. Não deu. Antes disso começou a ir ao chão, por conta da incúria governamental, que lhe negou a essencial manutenção preventiva e encurtou seu tempo de vida útil.
O autor do projeto estrutural, engenheiro Carlos Emílio Strauch, dimensionou o sistema estrutural da edificação para durar mais de 100 anos. Não durou metade disso. Começou a desabar 37 anos após a inauguração.
Abandonado, transformou-se em ruínas, mas, mesmo assim, ainda impressiona quem passa pela Orla e vê à distância suas torres de concreto armado sustentando a grande treliça metálica
Em “Saudosa Maloca”, o samba de Adoniran, a velha casa onde os três sem teto haviam se instalado é posta abaixo para a construção de um alto edifício. É o antigo cedendo espaço ao moderno. No caso do Centro de Convenções da Bahia o processo foi lamentavelmente inverso: o moderno cede espaço ao atraso e vai ao chão.
Neste sábado, o desabamento completa sete anos. Foi no início da noite do dia 23 de setembro de 2016 que uma parte do primeiro piso desabou, ferindo três pessoas. Dede então, as ruínas do equipamento continuam lá, como símbolo da inoperância, da incompetência e da irresponsabilidade.