Um delivery de reciclagem para os moradores do Pelourinho é a proposta lançada pela startup baiana de impacto socioambiental Solos, dentro da programação da Festa Literária Internacional do Pelourinho, a Flipelô.
Com um espaço situado no Terreiro de Jesus, no centro histórico de Salvador, a startup aproveita a maior festa literária da Bahia para explicar aos moradores e comerciantes do Pelourinho como o projeto funciona. Basta separar o lixo dentro de casa ou do seu comércio e ligar para o telefone (71) 99957-8803 para que um triciclo elétrico passe em seu endereço para recolher o lixo. O agendamento dessa coleta também pode ser feito pelo site
Chamado de Roda, o projeto ainda funciona como um piloto e será realizado até dezembro. O programa alinha logística urbana, promoção da reciclagem e inclusão social de catadores.
“Essa iniciativa do Roda é um projeto-piloto em parceria com a prefeitura de Salvador e que está acontecendo aqui no centro histórico inicialmente, mas com a pretensão de, quem sabe, chegar em mais espaços”, diz Olga Rocha, engenheira sanitária ambiental.
“A ideia é fazer justamente uma iniciativa aqui de coleta seletiva porta a porta, com um veículo de baixa pegada de carbono, que no caso é um tuktuk elétrico. Esse veículo vai nas casas das pessoas que fizerem o agendamento. E aí se combina o dia e o horário para que uma pessoa da cooperativa passe lá para buscar esse resíduo”, explica.
Depois que esse lixo é coletado na casa ou no comércio do Pelourinho, ele é separado dentro da cooperativa Crun e enviado para a indústria, onde é reciclado, podendo, por exemplo, se transformar em novos livros.
Segundo Laura Carvalho, da cooperativa Crun, diversos materiais podem ser reciclados, tais como plástico, alumínio e papel. Mas eles não podem estar sujos com material orgânico.
“Não pode ir material orgânico ou material sujo porque ele acaba contaminando o restante do material que possa estar limpo. Se juntar [ambos os materiais], isso acaba contaminando o material todo e ele vai precisar ser descartado”, argumenta.
Geração de renda
Além da questão da sustentabilidade, um dos fatores importantes desse projeto é a geração de renda para os catadores e membros das cooperativas.
“Essa rodada vai até dezembro e aí a gente vai analisar os indicadores de sustentabilidade e de resultado e fazer uma avaliação sobre a sustentabilidade real do projeto. E quando a gente fala de sustentabilidade, a gente está falando de fatores sociais, fatores ambientais, mas fatores econômicos também”, assegura Olga. “Isso ajuda a gerar rendas porque a gente está dando mais empregos para as pessoas e gerando trabalho. E o pessoal da comunidade vai se engajando”, ressalta.
Outros projetos no Terreiro de Jesus
No ano em que o Brasil vai receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes ou COP 30), a Flipelô criou um espaço no Terreiro de Jesus voltado para questões de sustentabilidade. Além do Roda, outros projetos sustentáveis também estão sendo apresentados neste espaço ao ar livre, para que a população e os turistas que participam da festa literária também passem a discutir esse tema.
“Ali no Terreiro de Jesus, que é um espaço bem emblemático [para a cidade] e onde as pessoas estão de passagem, temos um projeto chamado Recicle um livro, que é a troca de livros usados, e também um espaço para doação de mudas. Essa pauta [sobre sustentabilidade] tem que estar sempre na roda, já que este é um evento literário em que a gente consome produtos que precisam ser descartados com responsabilidade”, destaca Angela Fraga, presidente da Fundação Casa de Jorge Amado, instituição responsável pela realização da Flipelô.
Um dos projetos que também está sendo apresentado neste espaço é o Circule um Livro, desenvolvido pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e pela Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf).
Esse programa visa promover a troca gratuita de livros, estimular o conhecimento, a leitura e a economia circular. Na festa literária do ano passado, quando também esteve presente, o Circule o Livro foi responsável pela circulação de mais de 500 livros.
“Circule um livro é um projeto em que a gente estimula, em primeiro lugar, a circularidade do livro, circular livros que estejam em boas condições de uso. Trata-se daquele livro que você não quer mais e que está em casa ou daquele que você ainda gosta, mas você acredita que outra pessoa tenha o direito e o prazer de lê-lo”, assegura Yara Vasku, coordenadora de comunicação e projetos da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf).
“É um projeto que acontece o ano inteiro aqui na Bahia. A gente recebe livros de doação, mas as pessoas também podem vir aqui pegar livros que sejam de seu interesse”, destaca Yara.
Os livros que estão em boas condições podem ser utilizados por outras pessoas. Já os que não estão são encaminhados para reciclagem. “Queremos, com isso, estimular mais a leitura, a disseminação do conhecimento e o acesso. Muita gente que vem aqui no projeto não tem condições de comprar um livro. E a gente também aproveita para falar sobre a economia circular e sobre a importância da reciclagem”, explica Yara.
Loja de Inconveniências
Também ali no Terreiro de Jesus foi instalada uma loja. Com aparência de um comércio comum e repleta de embalagens, essa loja é, na verdade, uma instalação que convida o público a refletir sobre o descarte de materiais.
Chamada de Loja de Inconveniências Nada Verdes, o projeto se inspira em outro que ocorreu em São Paulo tendo como foco o combate ao abuso sexual contra crianças e adolescentes.
“A loja é, na verdade, uma proposta para a gente poder repensar os nossos hábitos de consumo. A nossa proposta é repensar a quantidade de material que a gente usa e qual a destinação que damos para eles”, opina Bárbara Portela, coordenadora desse espaço.
Nessa loja de inconveniência também ocorrerão palestras e distribuição de mudas. “Aqui há várias informações sobre espécies animais e vegetais que são totalmente impactadas [pelo descarte incorreto de materiais] e sobre o tempo que leva para a decomposição de cada material. Esse é um lugar de informação e para repensarmos sobre o descarte”, acrescenta Bárbara.
A Flipelô vai até domingo (10) no centro histórico de Salvador, com programação inteiramente gratuita. Mais informações sobre a festa literária e toda sua programação podem ser obtidas no site