Morre um paciente a cada 19 horas na fila da morte, só na região de Feira

José Carlos Teixeira*

“Essa fila tá um caso sério
Já tem doente desistindo de ser atendido
E pedindo carona pro cemitério.”
(Sem saúde, de Gabriel O Pensador)

E a fila da morte? Ela existe de verdade ou é apenas uma mentira a mais nesse nosso tempo da pós-verdade, no qual a prática de disseminar fake news virou coisa tão corriqueira que até mesmo a tristeza e a dor tamanha que a perda de uma vida humana acarreta deixaram de ser respeitadas?

A fila da morte é como ficou conhecido o processo de regulação de vagas nos hospitais públicos baianos. É assim que a regulação é tratada pela população – e também por parte da mídia, sempre que vira assuntos das manchetes dos noticiosos sensacionalistas.

O sistema funciona mais ou menos assim: todos os casos de pacientes atendidos nas unidades de saúde de baixa e média complexidade que necessitem de assistência médica de alta complexidade – serviços prestados geralmente pelos hospitais gerais ou pelos especializados – são comunicados à central de regulação, que se encarrega de procurar a vaga e autorizar o internamento.

Ganhou o nome de fila da morte porque, algumas vezes, a demora para encontrar uma vaga em um hospital é tão grande que o paciente acaba morrendo antes de ser internado.

Mas, voltemos à interrogação com que abrimos esse artigo. A fila da morte existe ou não existe? É uma realidade ou maledicência do povo, invencionice da imprensa, intriga da oposição? Verdade ou fake news?

O governo, que é responsável pela central de regulação, jura que não existe nenhuma fila da morte. Há, sim, a fila da regulação. Mas acrescenta que nem é tão grande como se diz por aí, pois construiu muitos hospitais nos últimos anos.

Para o governo, os eventuais casos de pacientes que morrem antes de serem atendidos decorrem da demora no diagnóstico inicial. Ou seja, a falha seria lá atrás, nas prefeituras, que não mantêm em bom funcionamento os serviços básicos de saúde, que são a porta de entrada do SUS (Serviço Único de Saúde).

Já a oposição garante que existe uma fila da morte, sim. E não para de dizer que ela não só é grande, mas vem crescendo a cada dia que passa, pois embora o governo tenha construído hospitais, eles são mal geridos e não contam com profissionais de saúde em número suficiente para atender à demanda.

Como era de esperar, a regulação e a fila da morte estão entre os temas mais abordados desde o início da atual campanha eleitoral. Com a oposição criticando o funcionamento da central da regulação e responsabilizando o governo pelas mortes de pacientes que vieram a óbito enquanto aguardavam atendimento. E com o governo, por sua vez, rebatendo as críticas e apontando os hospitais e policlínicas regionais que construiu no interior do Estado para desafogar a demanda nas unidades da capital.

Ou seja, com os dois lados seguindo o roteiro de sempre: a oposição ataca e a situação defende. A oposição diz que tem fila, o governo diz que não tem.

No início dessa semana, porém, um documento estarrecedor jogou luz sobre o problema e revelou que, em média, a cada 19 horas, morre uma pessoa na fila da regulação somente na região de Feira de Santana.

Um relatório elaborado pela Secretaria de Saúde de Feira de Santana, a pedido do Ministério Público do Estado, que investiga o problema, indica que entre 1º de janeiro e 30 de setembro deste ano foram registrados 339 óbitos de pacientes que aguardavam na fila da regulação uma vaga nos hospitais públicos.

Minucioso, o relatório indica a unidade municipal de saúde em que o paciente foi atendido, a data de entrada, o diagnóstico, a data e o número do protocolo solicitando a regulação e o tempo de espera. Em alguns casos, anexa o prontuário do paciente para que não pairem dúvidas.

Segundo o relatório, as pessoas esperaram por cinco dias, em média, na fila de regulação, e morreram sem obter uma vaga na rede de hospitais do Estado. Mas há casos de óbitos de pacientes que aguardaram mais de três semanas por um leito hospitalar.
Nenhuma novidade para quem acompanha o noticiário da imprensa e constantemente vê familiares de pacientes que morreram antes de conseguir internamento se queixando da falta de vagas nos hospitais e acusando a regulação.

O relatório encaminhado ao Ministério Público, no entanto, expõe de forma inequívoca a fragilidade do sistema e aponta a real dimensão do problema, presente em todo o Estado e certamente de forma mais aguda nos pequenos municípios das regiões mais distantes da capital.

Ou seja, o governo pode até dizer que não tem fila, mas que há pessoas morrendo enquanto aguardam vaga em um hospital, agora isso ninguém mais pode negar.

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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