Herança maldita 1 – Na frente do gol, o negro é o principal alvo da polícia baiana

José Carlos Teixeira*

“Olha quem morre, então veja você quem mata
Recebe o mérito, a farda que pratica o mal
Me ver pobre, preso ou morto já é cultural”
(Negro Drama, de Edy Rock e Mano Brown)

A elevada letalidade da polícia baiana, que tem na população negra seu principal alvo, como revelam os registros da própria Secretaria da Segurança Pública, é parte da herança maldita que o governador eleito, Jerônimo Rodrigues, vai receber do governo atual, ao assumir o cargo, no primeiro dia de janeiro.

A Bahia é vice-campeão nacional em letalidade policial. Perde apenas para o Rio de Janeiro. No ano passado, foram registradas 1.013 mortes por intervenção policial no Estado (no Rio, foram 1.356). Esse número, porém, pode ser maior: há outros 122 casos de mortes cometidas por policiais que não foram incluídos no banco de dados da Secretaria da Segurança, não se sabe o motivo.

As mortes por policiais na Bahia representam 15% de todas as mortes violentas intencionais ocorridas no Estado em 2021. Isso indica que a situação está fora de controle, de acordo com diversos padrões internacionais adotados para países que não estão em guerra ou vivendo conflitos internos. Segundo esses padrões, 5% de mortes provocadas por ações policiais é o limite máximo para se considerar que as ações não se configuram abusivas.

Caso emblemático desse descontrole é a “Chacina do Cabula”, uma operação realizada pela PM em 5 de fevereiro de 2015, que resultou na morte a tiros de 12 jovens negros, entre eles quatro adolescentes. Um fato que chocou a população e teve repercussão internacional.

Em uma tentativa canhestra de livrar a cara dos PMs, o governador Rui Costa disse na época que o policial age com um artilheiro na frente de um gol, que tem de decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro. E comparou:

“Depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias vezes na televisão. Se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado.”

Ou seja, o governador praticamente deu uma autorização explícita para que os agentes policiais atirem para matar. Desde então, a polícia baiana segue se comportando como um artilheiro em frente ao gol, que chuta primeiro para só depois saber se estava impedido ou não.

Um relatório divulgado nesta quinta-feira, 17, pela Rede de Observatórios da Segurança revela que em 2021 pelo menos 50 pessoas negras foram mortas pela polícia da Bahia, a cada mês. No ano, os casos de mortes de negros em ações policiais somaram 603 e apenas 13 tiveram como vítimas pessoas brancas. Em outros 397 casos não foi informada a cor da vítima. Na capital, a situação é alarmante e revela a face mais visível e palpável do racismo institucionalizado em um governo que se diz de esquerda e igualitário: das 299 mortes resultantes de intervenções policiais, apenas uma teve como vítima uma pessoa branca.

Esta é a situação no mundo real, ditada pela política de segurança adotada pelo governo, que privilegia a guerra em lugar da inteligência e da investigação. No mundo da propaganda governamental, porém, é tudo diferente.

Agora mesmo o governo está veiculando nas emissoras de televisão e na internet um vídeo feito para comemorar o Novembro Negro, o mês da Consciência Negra. Bonitinha, bem produzida, a peça diz que, na Bahia, igualdade racial é política pública. Mas não se deixe enganar, caro leitor: o braço armado e fardado do Estado segue na contramão.

José Carlos Teixeira*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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