Eu falei faraó ou os caminhos do PT na busca por um candidato a prefeito de Salvador

“A emersão, nem Osíris sabe como aconteceu
A ordem ou submissão do olho seu
Transformou-se na verdadeira humanidade”
(Faraó, Divindade do Egito, de Luciano Gomes)

Eles formam o Batalhão Quebra-Ferro e têm a tarefa de puxar e frear, na mão grande, como dizem os baianos, as carruagens que levam o Caboclo e a Cabocla pelas ruas estreitas e enladeiradas percorridas pelo cortejo do Dois de Julho, que celebra a vitória brasileiras nas lutas pela Independência travadas na Bahia há 200 anos.

São cem homens divididos em dois grupos iguais. Os vestidos com camiseta verde puxam, com o auxílio de cordas, o carro do Caboclo. Os de camiseta amarela, o carro da Cabocla. Não é uma tarefa fácil. Mas, para eles, é um privilégio e uma graça. Alguns cumprem a missão há várias décadas, com a mesma reverência e enorme dedicação.

Durante a passagem do cortejo – que faz o mesmo trajeto percorrido pelo Exército Libertador ao entrar na cidade abandonada pelos derrotados portugueses – os dois carros são cercados por populares que querem tocar nas imagens e fazer pedidos de graças. Para muitos baianos, o Caboclo e a Cabocla são divindades tais e quais os orixás do candomblé.

Os homens do Batalhão Quebra-Pedra vão a pé, como os demais participantes do cortejo. Vão embaixo. No alto, sobre as carruagens, apenas o Caboclo e a Cabocla. É assim desde a primeira vez que o cortejo para celebrar os heróis baianos da Independência se formou. Bom, os vaqueiros do grupo Encourados de Perdão desfilavam em seus cavalos, mas desde 2010 não mais participam da festa, por recomendação do Ministério Público do Estado, sob a controvertida alegação de supostos maus tratos aos animais.

Esse ano, porém, a tradição foi quebrada com a introdução de um elemento novo no cortejo, para espanto dos tradicionalistas e rejeição dos puristas: carros abertos para conduzir autoridades. Em um deles seguiram, lá no alto, como os caboclos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Jerônimo Rodrigues, acompanhados das respectivas primeiras damas. Em outro, a ministra da Cultura, Margareth Menezes.

No caso de Lula, alegou-se uma questão de saúde. Na véspera, por recomendação médica, o presidente, com dores nas pernas, não participou do Arraial do PT, festa junina organizada pelo partido em Brasília e que reuniu parlamentares, ministros e militantes petistas, com convites custando entre R$ 300 e R$ 5.000.

Já a presença de Margareth Menezes no outro carro, pairando sobre a multidão que acompanhava o cortejo, ensejou especulações de caráter político eleitoral: estaria ali sendo testada a viabilidade de uma candidatura da cantora e ministra à Prefeitura de Salvador, nas eleições do próximo ano?

A primeira emersão da ministra da Cultura como eventual candidata da base governista à prefeitura da capital todo mundo sabe como aconteceu: foi pela boca de um faraó da primeira linha governista. Em entrevista, no início de junho, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) apontou duas mulheres que poderiam muito bem representar o grupo na disputa: Margareth e a ex-primeira dama Fátima Mendonça, esposa do senador Jaques Wagner. Falava, no entanto, da boca para fora: afinal, ele mesmo ambiciona o posto, hipótese capaz de provocar urticária nos esquerdistas do PT.

Convenhamos: Margareth preencheria uma série de qualificações para ser uma candidata bem-sucedida, segundo o figurino traçado por marqueteiros de primeira hora: é mulher, é negra e é uma cantora de sucesso, amada e admirada pelos fãs. Além disso, há anos desenvolve com relativo sucesso um trabalho social em bairros da Península de Itapagipe, onde nasceu e cresceu – como se diz por lá: nunca abandonou os seus.

Uma eventual candidatura de Margareth seguiria o mesmo padrão da eleição passada, quando o então governador Rui Costa filiou e transformou na candidata do partido a major da PM Denice Santiago, derrotada logo no primeiro turno.

As especulações que surgem aqui e ali são consequência da dificuldade do PT em encontrar uma candidatura viável para enfrentar o prefeito Bruno Reis, que será candidato à reeleição e cujo governo é bem avaliado pela população – em recente pesquisa do Instituto Paraná, ele apareceu como o melhor avaliado entre os prefeitos das 10 maiores capitais, com uma taxa de aprovação de 68% e 26,1% de desaprovação.

Era desejo da cúpula da base governista entrar no segundo semestre deste ano com um candidato definido à prefeitura da capital, de modo a apresentá-lo à população durante o desfile do bicentenário do Dois de Julho, o que não ocorreu. Agora, o prazo para a escolha do candidato é o final do ano, segundo o governador Jerônimo Rodrigues. Até lá, seguem valendo todas e quaisquer especulações.

O pano de fundo da indefinição não chega a ser a conhecida posição do PT que, como partido hegemônico na base governista, não abre mão de indicar o candidato. Nem mesmo o racha interno do partido, por conta de divergências entre os ex-governadores Jaques Wagner, líder do governo no Senado, e Rui Costa, ministro da Casa Civil.

Rui, aliás, ficou meio isolado no cortejo do Dois de Julho, guardando uma certa distância do enorme batalhão formado pelos senadores e deputados governistas. Marcou ponto, porém, ao apresentar a Lula, momentos antes da saída do cortejo, o presidente da Conder, José Trindade, do PSB, tido como seu candidato preferencial à prefeitura – não obstante a derrota sofrida por Trindade na tentativa de reeleger-se vereador em 2020.

A questão fundamental é a eterna dificuldade do PT em construir nomes capazes de representá-lo com sucesso nas eleições para prefeito de Salvador. Tanto que o ex-deputado Nelson Pelegrino chegou a candidatar-se quatro vezes à prefeitura, sem sucesso: em 1996, 2000, 2004 e 2012. Quis também disputar em 2008, mas foi preterido e cedeu o posto a Walter Pinheiro, também derrotado.

A busca prossegue. O PT e os demais partidos da base governista sabem que, sem candidatura viável, só lhes restará um caminho, bastante conhecido das torcidas do Bahia e do Vitória: após a eleição, pegar o rumo do Campo Grande para chorar no pé do Caboclo. E não vale ir em cima de carro aberto. Tem que ir a pé.

José Carlos Teixeira
É jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador

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