A estreia da novela Renascer e o assassinato da pajé Nega, liderança indígena no Sul da Bahia

“Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente”
(Índios, de Renato Russo)

É um verdadeiro presente para o turismo da Bahia a decisão da Rede Globo de produzir uma nova versão da novela Renascer, um clássico da teledramaturgia brasileira criado por Benedito Ruy Barbosa e exibido no início dos anos 1990. A nova versão está a cargo de Bruno Luperi, neto de Benedito e também responsável pelo remake, como se diz agora, de outro sucesso do avô: a versão de Pantanal, exibida em 2022.

O enredo de Renascer coloca mais uma vez nas telinhas do Brasil inteiro um recorte da chamada “civilização do cacau”, construída a partir do povoamento e exploração de uma vasta área do Sul da Bahia, feito a bala e facão, coronéis e jagunços, grilagens e disputas de terras, mortes e expulsão de tribos indígenas que ocupavam as matas da região. Uma saga retratada em várias obras do escritor Jorge Amado.

A lavoura cacaueira na Bahia, que já conheceu dias de pujança (a ponto da palavra cacau transformar-se em sinônimo para dinheiro), viveu uma grave crise a partir dos anos 1980 e esteve praticamente ameaçada de extinção em razão da vassoura-de-bruxa, uma praga causada por um fungo que atacava os cacaueiros, devastando as plantações.

Atualmente, porém, vive uma espécie de renascimento, com um modelo de produção diferente, focado na qualidade e no respeito ambiental, inclusive com um viés turístico: é crescente o número de visitantes a fazendas de cacau para conhecer a plantação, provar o fruto, ver como é feita a secagem das amêndoas e degustar alguns tipos de chocolate de alta qualidade ali mesmo produzidos.

A novela, com locações em fazendas de cacau de Ilhéus e municípios vizinhos, atrai o olhar dos brasileiros para aquela região, desperta o interesse de eventuais visitantes em conhecê-la, fortalecendo o turismo regional. A estreia, na segunda-feira passada, 22, mereceu o devido destaque na imprensa nacional e incontáveis chamadas na programação da própria Rede Globo.

Só que, nessa mesma segunda-feira, a imprensa também destacou em suas manchetes um fato ocorrido no dia anterior, no município de Potiraguá, também no Sul da Bahia, a cerca de 200 quilômetros de Ilhéus: o assassinato de Maria de Fátima Muniz de Andrade, a pajé Nega, liderança dos pataxós hã-hã-hães.

O crime ocorreu em um conflito com um grupo de fazendeiros armados autodenominado “Invasão Zero”, que tentava realizar ilegalmente, na marra, a reintegração de posse de uma área ocupada pelos indígenas. Tudo ocorreu na presença de um grupo de policiais militares que não conseguiu impedir o ataque, no qual também foram baleados o cacique Nailton Muniz Pataxó e outros três indígenas.

Dois homens, apontados como autores dos disparos foram presos. Mas o ataque poderia ter sido evitado, acreditam a Defensoria Pública da União, a Defensoria Pública do Estado da Bahia e o Ministério Público Federal.

Para essas instituições, “é inaceitável que, mesmo cientes dos recorrentes episódios de violência aos povos indígenas e comunidades tradicionais, os governos estadual e federal não tenham implementado medidas efetivas para garantir a segurança desses grupos”.

Na novela, logo no segundo capítulo, o personagem José Inocêncio é alvo de uma emboscada. Mas escapa. Mesmo ferido, consegue matar os dois jagunços aos quais um coronel adversário contratara sua morte.

Na vida real, é diferente. Os atentados a lideranças indígenas continuam ocorrendo. Com mortes. Exatamente por isso e embora não precisasse, os três órgãos lembram na nota divulgada à imprensa que “a proteção dos direitos indígenas é um dever do Estado através de todos seus entes federativos, conforme preconizado pela Constituição Federal e tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário”.

E sustentam: “A postura governamental adotada até aqui viola os direitos humanos e perpetua um ciclo de violações e injustiça que faz com que o sangue indígena continue sendo derramado com a conivência do Estado brasileiro”.

Por diversas vezes, a Defensoria Pública da União, a Defensoria Pública do Estado da Bahia e o Ministério Público Federal solicitaram uma reunião com o governador Jerônimo Rodrigues para apresentar e explicar propostas aptas a garantir efetividade à proteção e aos direitos das populações indígenas e demais povos e comunidades tradicionais. Sem sucesso.

Mas não desistem: esta semana voltaram a insistir no pedido, na esperança que, dessa vez, o governador, que costuma proclamar sua ascendência indígena, resolva recebê-los. A conferir.

José Carlos Teixeira
É jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador

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