De lhe amar
Não, mas eu não quero agir assim
Meu louco amor”
(Sufoco, de Chico da Silva e Antônio José Castro)
Tudo indicava que seria um sufoco, mas ao fim e ao cabo tudo deu certo: os deputados da base governista renovaram seus votos de amor incondicional ao governador Jerônimo Rodrigues e o projeto de lei que reajusta em 4 por cento os vencimentos do funcionalismo público da Bahia – sendo 2% retroativos a 1º de maio e outros 2% a partir de 31 de agosto – foi aprovado por maioria, nesta terça, 28. A oposição, que apresentara uma emenda, recusada pela maioria, aumentando o percentual de reajuste para 10%, votou contra, é claro.
Desde o início, a proposta do governo havia sido rechaçada pelo funcionalismo, que reclama uma perda salarial acumulada de 35% nos últimos oito anos, de acordo com um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A cada voto dos deputados governistas em favor do diminuto reajuste, partiam vaias e gritos de “traidor” do pequeno grupo de funcionários que acompanhou a votação em um telão montado às pressas em um salão próximo ao plenário – eles não tiveram acesso às galerias, interditadas por decisão da Mesa Diretora, sob a alegação de que, em sessão anterior, deputados governistas foram hostilizados por lideranças sindicais.
De toda forma, o final feliz para o governo no episódio não significa que as relações do governador Jerônimo Rodrigues com sua base parlamentar estejam em clima de eterna lua de mel. Pelo contrário: nas últimas semanas um numeroso grupo de deputados recusou-se a dar quórum nas sessões, dificultando a tramitação e atrasando a votação de vários projetos de interesse do governo, como a autorização para contrair um novo empréstimo no valor de R$ 2 bilhões.
O pano de fundo dessas desavenças é a insatisfação de deputados dos diversos partidos da base – até mesmo do PT, o partido do governador – com o não atendimento de demandas dos municípios e, sobretudo, o não pagamento das emendas parlamentares.
Como se não bastasse, aos deputados insatisfeitos têm se juntado alguns prefeitos mais independentes, que se queixam abertamente de não serem recebidos pelo governador e de não conseguirem sequer dialogar com os assessores de Jerônimo Rodrigues que cuidam das relações institucionais.
A pouco mais de quatro meses das eleições municipais, esse casamento não pode atrasar mais a realização de uma DR – que, pela urgência e necessidade, precisa ser ampla, geral e irrestrita, sob pena da tensão atual resvalar para uma crise de maior gravidade.