Vetado pela Justiça, o espetáculo “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, que traz Jesus como uma travesti, foi exibido em Salvador mesmo com a decisão desfavorável. De acordo com os organizadores, a encenação foi vetada no Espaço Cultural Barroquinha, em Salvador e não no Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA), no Corredor da Vitória, para onde foi transferida. A apresentação fez parte da programação da 10ª edição do Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (FIAC Bahia), que ocupa diversos espaços culturais da cidade.
Veja também: Jesus Cristo como travesti: “eles não podem querer colocar uma mordaça gay em nosso país”, diz deputado sobre espetáculo em Salvador
A organização do evento informou que houve uma “tentativa de censura”, mas que, como a decisão judicial, que atendeu a uma ação movida contra a Fundação Gregório de Mattos, responsável pelo Espaço Cultural Barroquinha, não citava o FIAC e nem a produção do espetáculo, decidiu transferir a apresentação para o Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA), no Corredor da Vitória. Além disso, a organização da peça informou que a decisão da Justiça vetava a apresentação do espetáculo apenas nos espaços da Fundação Gregório de Mattos, o que não é o caso do ICBA.
A produção informou que a transferência do local de realização do espetáculo foi realizada em tempo e a peça foi encenada no ICBA pouco depois das 21h. O público que tinha comprado ingressos para ver a apresentação no Espaço Cultural Barroquinha, marcado para as 18h, se dirigiu para o ICBA para ver a encenação. As entradas custaram R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira). Antes da apresentação, ainda conforme a organização do evento, um advogado do FIAC explicou ao público o que tinha acontecido e porque decidiram mudar o local da apresentação.
Veto
A decisão de barrar a apresentação no Espaço Cultural Barroquinha foi do juiz Paulo Albiani Alves, da 12ª Vara Cível. Na liminar, Albiani aponta que o grupo que entrou com o pedido de suspensão da peça alegou que o espetáculo é “extremamente ofensivo a moral da humanidade, que é em sua grande maioria crente no homem Jesus como filho de Deus”.
A decisão aponta que o espetáculo “expôs ao ridículo” símbolos como a cruz e o próprio homem e ainda diz que a peça “incitou crime de ódio e feriu a liberdade e a dignidade humana”.
Na quinta-feira (26), a peça foi apresentada no Espaço Cultural Barroquinha, também como parte da programação do Fiac Bahia. Na sexta, segundo a organização do evento, a decisão chegou ao conhecimento da produção às 17h, o que impossibilitou qualquer tentativa de reverter judicialmente a liminar assinada pelo juiz de primeira instância.
Em nota, a organização do Fiac Bahia disse que a peça sofreu uma tentativa de censura. Afirmou, ainda, que o juiz de primeira instância tomou a decisão “mesmo sem conhecer o espetáculo e baseado exclusivamente nas alegações dos proponentes da ação”.
“Para a equipe organizadora do FIAC Bahia, a ocorrência constitui-se uma censura explicita à liberdade de expressão, que tenta impedir a reflexão sobre temas importantes para toda a sociedade. É também uma afronta ao direto dos artistas de ocuparem espaços de visibilidade em nossa cidade, exercendo a liberdade de criar e se expressar a partir de narrativas múltiplas”, diz trecho da nota.
Na sexta, a Fundação Gregório de Matos informou que, juntamente com a produção do festival, já estava tomando as providências jurídicas cabíveis.
Com informações do G1]]>