Os Correios divulgaram nesta segunda-feira (12/05) um plano estratégico para enfrentar o rombo bilionário de R$ 2,6 bilhões registrado em 2024. O conjunto de medidas busca reequilibrar as contas da estatal e inclui cortes de jornada e salário, suspensão temporária de férias e a reestruturação interna da empresa. A expectativa é de gerar uma economia de R$ 1,5 bilhão já em 2025.
O documento foi enviado aos cerca de 86 mil funcionários e detalha as ações que atingem diretamente os trabalhadores. Entre elas, estão o incentivo à redução da jornada de trabalho de 44h para 34h semanais, o retorno obrigatório ao trabalho presencial a partir de 23 de junho, e a prorrogação do prazo de adesão ao Programa de Desligamento Voluntário (PDV) até 18 de maio.
“Estamos diante de um desafio importante: a necessidade de reduzir despesas”, afirma o comunicado interno. A empresa ainda ressalta que a colaboração dos funcionários será essencial para atravessar o momento crítico.
Principais medidas anunciadas pelos Correios:
• Redução de 20% no orçamento de funções comissionadas;
• Diminuição da carga horária semanal para 34h, com redução proporcional de salário;
• Suspensão temporária de férias a partir de 1º de junho de 2025;
• Prorrogação do PDV;
• Incentivo à transferência temporária com pagamento de adicional mais vantajoso;
• Retorno presencial obrigatório para todos os empregados;
• Reformulação dos planos de saúde, com economia estimada de 30%;
• Lançamento de marketplace próprio ainda em 2025;
• Captação de R$ 3,8 bilhões junto ao New Development Bank (NDB) para investimentos.
Rombo nas contas e aumento de despesas
O prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024 representa um salto expressivo em relação ao déficit de R$ 633 milhões em 2023. É o maior valor negativo registrado pela empresa desde 2016. Os Correios apontam como causa principal a queda nas receitas com encomendas internacionais e o aumento das despesas operacionais, que passaram de R$ 15,2 bilhões para R$ 15,9 bilhões.
Os gastos com pessoal foram os mais impactantes, somando R$ 10,3 bilhões em 2024 – um crescimento de R$ 700 milhões em relação ao ano anterior. Segundo o relatório financeiro, esse aumento está ligado ao Acordo Coletivo de Trabalho firmado com mais de 80 mil empregados e ao reajuste de benefícios como vale alimentação e refeição.
Outro dado alarmante é que apenas 15% das mais de 10 mil unidades de atendimento apresentaram superávit no ano. Ainda assim, a empresa destacou o papel social de garantir acesso universal aos serviços postais em todos os 5.567 municípios brasileiros.
Investimentos e sustentabilidade
Apesar da crise, os Correios afirmam que vão manter o plano de modernização e sustentabilidade da empresa. Em 2024, foram investidos R$ 830 milhões, com destaque para a aquisição de 50 furgões elétricos, 3.996 bicicletas cargo com baú, 2.306 bicicletas elétricas e 1.502 veículos convencionais.
O plano estratégico prevê a transição ecológica das operações nos próximos cinco anos, com foco em reduzir o impacto ambiental das atividades da estatal.
Crise de liquidez e atrasos em pagamentos
A situação financeira dos Correios se agravou também pela perda de liquidez. Em 2024, a empresa consumiu R$ 2,9 bilhões das reservas em caixa e aplicações financeiras, restando apenas R$ 249 milhões. O reflexo imediato foi o atraso de repasses a agências franqueadas e transportadoras parceiras, o que vem causando lentidão nas entregas de encomendas desde abril.
O cenário preocupa funcionários, sindicatos e clientes, que já sentem os efeitos da desaceleração dos serviços. A direção da empresa, no entanto, afirma que o plano de reestruturação é necessário para garantir a sobrevivência da estatal e sua capacidade de investimento a longo prazo.