Um grande candomblé de rua ocupará novamente, pelo quinto ano consecutivo, a Praça Desembargador Montenegro, na cidade de Camaçari. No próximo dia 24 de novembro, a partir das 14h, as danças, os cânticos e o batuque dos atabaques tomarão as ruas do município, pedindo paz e respeito ao povo de santo.
Trata-se do Xirê de Rua, atividade que remonta em pleno ar livre o ritual do candomblé no qual os babalorixás, iyalorixás e filhos de orixás (na nação ketu), inquices (na nação angola) ou voduns (no jeje) dançam e festejam ao som dos cânticos em respeito às entidades.
O objetivo do evento, idealizado pelo terreiro Asé Oloódé Omilolá desde 2014 e apoiado por diversos outros templos da região e até de outros estados, é alertar para o combate ao racismo, a luta contra a intolerância religiosa e o ódio propagado contra os cultos afro-brasileiros.
“Queremos unir todos para pedir paz e união em torno de um Estado laico e pregar a liberdade religiosa como bem maior da nossa sociedade”, explica o babalorixá Roberto de Jesus Silva, também conhecido como Pai Roberto de Oxóssi, líder religioso do Asé Oloódé Omilolá e presidente da comissão de organização do Xirê de Rua.
A idealização do evento, liderada por Pai Roberto, surgiu da necessidade de promover anualmente o evento, quando seu terreiro foi invadido e os assentamentos sagrados dos orixás foram destruídos, além de ter verificado que alguns terreiros da religião voltaram a sofrer agressões ao seu sagrado de forma semelhante – o que acontecia naquela época, assim como atualmente, pela falta da existência de políticas públicas de proteção aos cultos afro-brasileiros no município. Entretanto, no ano de 2016, após duas edições do evento, até mesmo uma Lei Municipal (Lei 1.449/2016) foi instituída, definindo o Dia do Xirê de Rua.
Com o passar do tempo, uma grande articulação de terreiros e entidades da sociedade civil foi formada para manter a tradição e buscar novos apoiadores, como o Coletivo de Entidades Negras (CEN), instituição nacional do movimento negro, e o Bembé do Mercado de Santo Amaro, que sempre se faz presente, buscando fortalecer o Xirê de Rua.
“Desde 2014 os terreiros se articulam na tentativa de levar o maior número de pessoas para a rua, buscando parceiros para que o Xirê de Rua possa ser uma tradição viva, assumindo seu papel social e político na vida das pessoas através de reivindicações junto às autoridades para a criação de políticas afirmativas para os povos de matriz africana”, explica Pai Roberto, destacando ainda a grande adesão de adeptos e simpatizantes do candomblé ao Xirê de Rua.