Natálie Souza, 17 anos, aluna de teatro da Base Comunitária de Segurança (BCS) de Itinga, foi indicada na categoria Atriz Revelação da 26ª edição do Prêmio Braskem de Teatro, maior premiação do teatro na Bahia, com o espetáculo “A Rede: Memórias Compartilhadas”.
Com a direção do soldado Luide Prins, formado em artes cênicas que ministra aulas de teatro gratuitas com o projeto Vidas em Cena para jovens da comunidade de Itinga, “A Rede: Memórias Compartilhadas” foi uma das 61 peças teatrais baianas profissionais e inéditas analisadas nas oito categorias: Espetáculo Adulto, Espetáculo Infantojuvenil, Direção, Ator, Atriz, Texto, Revelação e Categoria Especial.
Com apenas 17 anos, Natálie, moradora da comunidade de Itinga, entrou nas aulas de teatro da BCS há dois anos e meio para vencer a timidez e hoje já reúne no currículo a participação em três peças. “Foi uma grande surpresa, pois achei que concorreríamos na categoria espetáculo. Quero ser uma atriz reconhecida e essa indicação mostra que estou no caminho certo. Agora estou terminando o ensino médio e pretendo seguir essa profissão. A arte me transformou completamente”, destaca.
O professor, que a levou pela primeira vez a um teatro, avalia o desempenho da jovem atriz. “É muito gratificante poder acompanhar o crescimento dela, especialmente na indicação de um prêmio tão importante para o teatro baiano como o Braskem. Esse reconhecimento é muito merecido, pois, apesar de jovem, Natálie é uma profissional dedicada, inteligente e talentosíssima”, revela o militar.
Sobre a importância dessas iniciativas da PM, através das Bases Comunitárias de Segurança (BCS), em comunidades assistidas a atriz confessa: “Antes eu não via policial como amigo, pois sempre tem essa barreira do respeito. Entrei no “Vidas em Cena” e fiz amizade com outros policiais militares da BCS, que já me ajudaram muito. O projeto tirou essa barreira entre polícia e comunidade”, afirma.
Premiação – O Prêmio Braskem de Teatro há 26 anos tem o papel de valorizar, reconhecer e premiar a produção teatral do estado, abrindo espaço para o surgimento de novos talentos. A premiação tem foco na valorização e promoção da cultura e das artes e no desenvolvimento humano. A premiação ocorre 15 de maio no Teatro Castro Alves.
Sinopse – “A Rede: Memórias Compartilhadas” é ambientada em um futuro onde as redes sociais provocaram um colapso entre as potências mundiais e levaram a humanidade à miséria e destruição. Um peregrino, que vaga nessa imensidão destruída, recruta jovens sobreviventes crescidos em um período no qual as relações humanas estavam resumidas às redes sociais.
O peregrino passa a resgatar alguns conceitos e costumes perdidos entre a humanidade, utilizando-se da nomenclatura “nomadismo interno”, referindo-se à retomada do homem com as suas raízes, seus costumes e seus antepassados, na inquietação interna do sentido da palavra humanidade. Questionamentos sobre as gerações, tecnologias, redes sociais e relações humanas são a tônica central do espetáculo, que questiona: “por quem você luta?”.
Os livros a “A inteligência coletiva”, do filósofo francês Pierre Lévy, e “Neuromancer”, romance do ator americano William Gibson, foram as principais influências na fundamentação filosófica do espetáculo. A escolha da estética futurista e pós-apocalíptica possibilitou levantamento de problemáticas referentes ao uso das redes sociais e sua interferência na convivência direta entre os indivíduos, e como se dá essa tentativa de resgate de uma humanidade devastada.