O ex-juiz Sérgio Moro sempre demonstrou ser homem de poucas palavras, mas de movimentos precisos e muito, mas muito bem pensados. Por esta razão, uma resposta dele a um tweet de um parlamentar, por exemplo, não pode ser vista como uma mera conversa casual. Pelo mesmo motivo, a resposta de Moro a um tweet da Professora Dayane Pimentel (deputada federal e presidente do PSL na Bahia) não pode ser visto como casual movimento, ainda mais por se tratar da primeira interação de Moro com um parlamentar após sua saída do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
A deputada baiana, por sua vez, apoiadora de primeira hora do ainda candidato Jair Bolsonaro (desde quando ele buscava partido que aceitasse lançá-lo como nome à Presidência da República), mesmo após o rompimento com o presidente, manteve apoio às pautas que levaram o capitão reformado à vitória em 2018. Apesar de ser alvo das milícia digitais e do “Gabinete do Ódio”, Dayane manteve apoio a ministros como Paulo Guedes e Moro, pilares das políticas liberais econômicas e de combate à corrupção, respectivamente.
Moro, que causou ciúmes e desconfiança de Bolsonaro desde os primeiros meses da gestão por ser visto como nome potencial para a disputa eleitoral em 2022, foi atacado pelas milícias virtuais muitos meses antes de sua saída do ministério. Foi chamado de “esquerdista”, pasmem. A exemplo da Professora Dayane, o juiz Moro foi levado para a oposição pelos próprios atos destemperados de Jair Bolsonaro que age como monarca absolutista (o que não há sequer no Reino Unido atual) e guardião de um clã, esquecendo-se de que deveria ser um presidente, ou seja, condutor de todo um povo em uma República (do latim, res publica; ou seja “coisa pública”).
É natural que, nesse momento em que é atacado não somente pela milícia bolsonarista nas redes sociais e no parlamento, mas também pelo Centrão e pela esquerda, Moro busque apoiadores que sejam leais às pautas em comum. Na Bahia, o nome que permaneceu ao lado de Moro, manifestando apoio ao ex-ministro e ex-juiz, foi a professora. Bolsonaristas baianos que carregaram placas com o nome de Moro antes das eleições de 2020, preferem esquecer o passado para continuar com o presidente, mesmo com as alianças com pouca aparência de republicanas com o Centrão.
A milícia grita contra Moro e Dayane: “traidores”. Mas, na manhã desta quarta-feira (10), uma ex-apoiadora do presidente, a youtuber Cris Bernart foi ao cercadinho de apoiadores do presidente e expôs incômodas verdades. Enquanto mais um “mito” é derretido no Brasil, parece que, na Bahia, um juiz e uma professora dão os primeiros passos de uma relação que pode incomodar muita gente hoje e em 2022.
Por Carlos Júnior/repórter do Informe Baiano