O presidente Jair Bolsonaro disse a apoiadores nesta quarta-feira (14/04) que está aguardando a população “dar uma sinalização” para ele “tomar providências”. O político fez a declaração em meio ao comentário sobre uma reportagem do jornal Correio Braziliense sobre estudo do movimento Food for Justice que indica que 6 em cada 10 domicílios brasileiros passaram por uma situação de insegurança alimentar de agosto a dezembro do ano passado, totalizando 125 milhões de brasileiros.
“O Brasil está no limite. Pessoal fala que eu devo tomar providências, estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque a fome, a miséria, o desemprego está aí, pô, só não vê quem não quer ou não está na rua… Só digo uma coisa: eu faço o que o povo quiser que eu faça”, disparou o presidente.
Nos últimos dias Bolsonaro tem surgido cada vez mais nervoso devido a uma CPI no Senado para apurar, entre outros pontos, ações e omissões do governo federal na gestão da pandemia.
Na quarta-feira, ele disse que “estamos na iminência de ter um problema sério no Brasil” e que “parece que é um barril de pólvora que está aí”.
“A temperatura está subindo, a população está cada vez numa situação mais complicada. Eu gostaria que o pessoal que usa paletó e gravata, que decide, visite aí a periferia, converse com a população, converse com a sua empregada doméstica em casa, esta não está impedida de trabalhar”, disse Bolsonaro.
As declarações são argumentos para transferir a culpa da fome e de um eventual caos social a prefeitos e governadores que adotam medidas restritivas para conter a disseminação do coronavírus.
Na mesma conversa com apoiadores, dirigindo-se aos “amigos do Supremo Tribunal Federal”, Bolsonaro disse que “daqui a pouco vamos ter uma crise enorme aqui”. Bolsonaro fez uma rápida menção a “um ministro [que] despachou lá um processo por genocídio”, argumentando que não foi ele quem “fechou tudo”.
A ministra Cármen Lúcia, do STF, pediu que o presidente da corte, ministro Luiz Fux, marque julgamento de notícia-crime contra Bolsonaro por suspeita de genocídio contra indígenas durante a pandemia.
“Eu não estou ameaçando ninguém, mas estou achando que brevemente teremos um problema sério no Brasil. Dá tempo de mudar ainda. É só parar de usar menos a caneta e um pouco mais o coração”, afirmou o presidente da República.
Bolsonaro também voltou a criticar decisão do ministro do STF Luís Roberto Barroso que determinou que o Senado desse seguimento à criação da CPI da Covid, o que aconteceu na terça-feira (13).
“Quando eu vi, fiquei chateado. Por que fiquei chateado? Por que investigar omissões minhas, não quem pegou dinheiro na ponta da linha?”, indagou o presidente.
Bolsonaro voltou a cobrar o prosseguimento de pedidos de impeachment de ministros do Supremo e reiterou que considera a decisão de Barroso sobre a criação da CPI uma intromissão do STF no Legislativo.
“Daí cria-se este clima de animosidade. É uma interferência, sim, deste ministro junto ao Senado para me atingir”, afirmou.