José Carlos Teixeira*
“No campo do adversário
É bom jogar com muita calma
Procurando pela brecha
Pra poder ganhar”
(Geraldinos e Arquibaldos, de Gonzaguinha)
Imagine que você, meu caro leitor, é um técnico de futebol. Seu time está em campo e você acompanha o desenrolar da partida tão somente olhando para o placar, que se move à medida em que saem os gols – ou não. Alegra-se, quando a mudança no placar lhe é favorável. Entristece-se, quando ela lhe desfavorece.
Olhos fixos no placar, não tem a exata noção de como o seu time está atuando. Da mesma forma, ignora como joga o adversário. Sabe como está o escore naquele momento, mas é incapaz de avaliar a possibilidade de ocorrer uma virada, para um lado ou para o outro. Faltam-lhe os elementos para dar uma orientação segura à equipe, para saber se é chegado o momento de substituir um jogador. Cego do resto, tem olhos apenas para o placar.
Recorremos a essa inverossímil imagem tão somente para enfatizar que, consideradas isoladamente, as pesquisas de intenção de voto, as chamadas quantitativas, são insuficientes para a compreensão da evolução de uma disputa eleitoral complexa como a do governador de um estado como a Bahia: grande, populoso e com uma rica diversidade cultural, econômica e política.
Há que se considerar outros fatores que só se revelam nas chamadas pesquisas qualitativas: tendências, sentimentos, opiniões, expectativas, desejos, motivações do eleitorado e outros elementos de elevada subjetividade.
Isso para além dos fatos políticos de maior ou menor peso que ocorrem ao longo da campanha, influindo negativa ou positivamente no modo como o eleitor encara esse ou aquele candidato.
As pesquisas de intenção de voto, como bem sabe a amável leitora, são como fotografias de um determinado momento. Só que a campanha eleitoral é um filme. Ou seja, o que vale é o movimento.
A questão é que estamos a apenas 21 dias da eleição e as fotografias reveladas pela avalanche de pesquisas que os institutos vêm divulgando desde antes mesmo do início da campanha eleitoral continuam mostrando um quadro estático, com o candidato oposicionista ACM Neto (União Brasil), na liderança, muitos pontos à frente do segundo colocado, o governista Jerônimo Rodrigues (PT), e a grande distância do bolsonarista João Roma (PL), na terceira posição.
A próxima semana será crucial para todos eles. Caso as novas pesquisas não indiquem uma avantajada reversão de expectativas – ou seja, apontem um acentuado crescimento de Jerônimo e uma queda proporcional de ACM Neto –, prenuncia-se um movimento de debandada geral em favor do líder da disputa. Desde candidatos a deputado pressionados por suas bases eleitorais a pequenas lideranças municipais do interior até agora abrigadas no ninho governista. Em paralelo, a definição de uma parcela do eleitorado pelo chamado voto útil, em favor do candidato que se acredita vai ganhar a eleição.
Será uma semana de grandes emoções para os candidatos e quem mais acompanha a disputa eleitoral. Olho vivo nas pesquisas, pois.
*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.