Viva el-rei, viva a família, viva a turma do bloco do pega na chaleira

“Iaiá me deixa
Subir essa ladeira
Eu sou do bloco,
Mas não pego na chaleira”
(O Cordão dos Puxa-sacos,
de Frazão e Roberto Martins)

No início do século passado, o senador Pinheiro Machado (1851-1915), chefe do Partido Republicano Conservador, era um dos homens mais fortes da República. A casa dele, no alto de uma ladeira, no Cosme Velho, no Rio de Janeiro, vivia sempre cheia de gente – a maioria, bajuladores de diversos calibres, a postos para agradar o chefe, visando tirar algum tipo de proveito.

Pinheiro era gaúcho e não abria mão do chimarrão. Conta-se que era tal a disputa dos bajuladores na hora de reabastecer de água quente a cuia de mate do político, que muitos acabavam pegando na chaleira quente pelo bico, queimando a mão. Daí, acredita-se, surgiram a expressão “pega na chaleira” como sinônimo de adulador, bajulador e puxa-saco em geral, e o verbo “chaleirar” para definir a deletéria ação deles.

Voltemos aos republicanos tempos atuais. Ao dia 5 deste mês, data em que o Diário Oficial do Estado publicou decreto assinado pelo governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, autoconcedendo-se a Medalha do Mérito Bombeiro Militar.

Isso mesmo, amável leitora. Sua excelência, reconhecendo que tinha méritos suficientes para receber a medalha, prontamente autoagraciou-se com ela. Por decreto, claro.

No mesmo decreto, ele estende a concessão da honraria à própria esposa, a primeira dama Tatiana Ribeiro Veloso, e a outras 49 pessoas. Nessa longa lista, estão incluídas ainda duas irmãs do governador (Marta Rodrigues Souza de Brito Costa, vereadora na capital, e Rita Rodrigues Souza Silva, ex-vice-prefeita de Jequié, ambas, como o irmão, filiadas ao PT), mais alguns integrantes do primeiro escalão do governo estadual, deputados e militares da PM.

À primeira vista, pode parecer um caso de deslumbramento com o poder. Mas não é. Pelo contrário, o governador aparenta ser uma pessoa simples e até agora não há evidências de que vem se deixando levar pelas pompas e circunstâncias inerentes ao cargo. Bom, tem o fato de ter se tornado o primeiro governador na história a desfilar no cortejo do Dois de Julho em cima de um carro, privilégio até então restrito aos encantados, o Caboclo e a Cabocla – que para muitos baianos são divindades tais e quais os orixás do candomblé. Mas, nesse caso, ele apenas acompanhou o presidente Lula, impedido, por restrições médicas, de fazer a pé mesmo parte do trajeto, como fazem os pobres mortais. Fazer o quê?

Jerônimo até que tem demonstrado desapego, algumas vezes trocando a liturgia do cargo e quebrando o protocolo em busca de um contato direto com as pessoas, seguindo as orientações do pessoal do marketing, gente que sabe das coisas e busca incessantemente aproximar o ainda pouco conhecido governante do povo.

Quer um exemplo de desapego do governador, meu caro e descrente leitor? Ele não fez questão de mudar-se para o Palácio de Ondina, assim que tomou posse. Esperou pacientemente que a residência oficial do governador da Bahia fosse desocupada por seu antecessor, o que só ocorreu uns dois meses depois.

Na verdade, a farta distribuição de medalhas e comendas – uma prática reminiscente da Idade Média – é resultado de um outro fenômeno que cerca o exercício do poder, qualquer poder, em qualquer tempo: ela mesmo, a chaleragem, o puxa-saquismo, a adulação, a bajulação. Não se surpreendam se entre os tantos agraciados, houver quem nunca passou perto de um bombeiro militar baiano – no máximo, viu alguns combatendo o fogo, pela televisão –, mas é gente que é preciso bajular.

Daí a inclusão do governador, das irmãs dele e da primeira dama na lista encaminhada para a assinatura de sua excelência com os nomes das personalidades a serem agraciadas com a medalha, supostamente por bons serviços prestados ao Corpo de Bombeiros Militar da Bahia. Tudo para agradar el-rei.

Faltou alguém com bom senso nessa história e sobraram chaleiras. Afinal, aqui pra nós, não pega bem o governador ficar se autoagraciando com medalhas, condecorações e afins. É uma espécie de autoelogio e, como diz um antigo provérbio português, sempre citado pelo saudoso jornalista Millor Fernandes, “elogio em boca própria é vitupério”.

Verdade que tem precedente (Rui Costa também se autoconcedeu a mesma medalha, em 2021), mas não é de bom-tom, para usar uma expressão antiga, do tempo em que abundava pejo nesta terra do Senhor do Bonfim.

José Carlos Teixeira
É jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador

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