Rodelas, Abaré, Chorrochó e Macururé são os quatro municípios do norte da Bahia que agora compõem a primeira área de clima árido identificada no Brasil. A mudança climática, antes vista como ameaça distante, tornou-se realidade para milhares de moradores do sertão baiano. A situação é tão crítica que levou a Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA) a iniciar um processo de escuta e mapeamento nas regiões mais afetadas.
“O chão está rachando, e a água sumindo. A gente se vira como pode, mas é cada vez mais difícil plantar e criar bicho”, conta Antônio Gonçalves, agricultor de 75 anos, morador de Rodelas. O município está entre os que enfrentam os piores efeitos da desertificação, fenômeno que transforma áreas semiáridas em terras estéreis, com pouca ou nenhuma capacidade produtiva.
Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a reclassificação de parte do território baiano como clima árido marca um alerta ambiental sem precedentes no país. O impacto é direto: menos chuvas, maior escassez de água, degradação do solo e aumento da migração forçada.
Nas áreas rurais de Chorrochó, por exemplo, a água que chega às famílias muitas vezes é retirada diretamente do rio, sem qualquer tipo de tratamento. “A gente precisa puxar a água com bomba e levar em tambor pra fazenda. É o jeito. Tem vezes que nem isso dá certo”, relata José Reis, representante dos trabalhadores rurais de Rodelas.
A escassez hídrica também afeta a economia local. A agricultura de subsistência, que sempre sustentou boa parte das famílias da região, está cada vez mais ameaçada. Os jovens, sem perspectivas, buscam sair dos municípios, enquanto os idosos resistem como podem. Em Macururé e Abaré, histórias semelhantes se repetem: roças abandonadas, poços secos e dificuldade crescente de acesso a serviços básicos.