Pistolas, fuzis, roupas de guerra e até um bolo de aniversário com referências ao crime organizado. Era assim que Bianca Duarte Franco, de 24 anos, conhecida como Ayna, gostava de aparecer nas redes sociais.
Ela foi apontada pela Polícia Civil do Pará como uma espécie de gerente de recursos humanos (RH) do Comando Vermelho, facção criminosa do Rio de Janeiro que também atua na Região Norte. As informações são do g1.
Bianca foi presa na sexta-feira (2), em Cabo Frio, no RJ, por suspeita de integrar uma organização criminosa, além de tráfico de drogas e associação ao tráfico.
Ela costumava postar fotos e vídeos com um fuzil em favelas do Rio. Em uma das gravações, aparece dançando com a arma.
Nas imagens que chamaram a atenção dos policiais, Bianca aparece com armas no ombro e na cintura.
Em outra imagem, é possível ver que ela está em uma pedra, provavelmente em uma região de mata, de colete e balaclava. Dois fuzis também aparecem na foto. Na legenda, ela diz: “Só ódio nessa desgraça de vida.”
Quem é Bianca, apontada como ‘RH’ de facção criminosa
A mulher nasceu no Maranhão e, de acordo com a polícia, era responsável por cadastrar novos integrantes do Comando Vermelho.
O delegado Gustavo Fossati, da Delegacia de Repressão a Facções Criminosas da Polícia Civil do Pará, diz que ela checava se a possível entrada do novo membro poderia causar problemas na facção.
“Ela era responsável por pegar os dados, tirar foto, ver se ele [o candidato a integrar a facção] tem algum contra de algum superior na organização criminosa. Estando tudo ok, ela fazia esse formulário”, explica o delegado.
Bianca comemorou aniversário com bolo de fuzis
Bianca postou nas redes sociais seu bolo de aniversário de 24 anos. A decoração sugere forte ligação com o crime e a “Tropa do 41”, uma referência ao traficante Leonardo Costa Araújo, o Leo 41, chefe do tráfico de drogas no Pará, morto em uma operação da polícia no RJ, em 2023.
Leo é apontado como um dos responsáveis por ataques que mataram vários agentes de segurança pública Pará.
Em outra foto, Bianca aparece em uma casa no Complexo da Penha, no Rio, com uma pistola na mão e uma camisa com o texto “Ayna 41”.
‘Minha mãe sabe que eu sou bandida’
A presença de Bianca nas redes sociais não era de muito cuidado. Em um vídeo postado por ela, a traficante admitiu que tinha envolvimento com o crime.
Ela inclusive reclamou de quem, supostamente, estaria enviando fotos dela armada para a sua mãe.
“Minha mãe sabe que eu tiro plantão, minha mãe sabe que eu sou bandida, sabe que eu trafico, tudo o que eu faço, ela sabe. Sabe que eu ando armada”, diz Bianca no vídeo.
Na sexta, ao ser capturada em Cabo Frio, a mulher foi questionada pelo delegado Gustavo Fossati se sabia por que estava sendo presa.
Ao responder que não, ouviu uma frase que havia publicado nas redes sociais dias antes:
“Porque o mundo é dos espertos”, disse o policial.
No momento da prisão, Bianca estava acompanhada de duas amigas: a paraense Layane Tharlita Santos Santana e a brasiliense Kalita Eduarda Ataíde. Ambas presas em flagrante por tráfico de drogas e associação para o tráfico.
A ação foi filmada pela polícia, e a todo momento Bianca parecia não acreditar que estava sendo presa. Sem entender muito bem, ela tentou questionar um dos policiais que filmava sua prisão.
“Você vai ficar me gravando? Pelo amor de Deus”, disse.
Na segunda-feira (5), o juiz Pedro Ivo Martins Caruso D’ippolito, da 2ª Vara Criminal de São João de Meriti, determinou a prisão preventiva de Bianca e das duas outras mulheres.
Mudança de perfil do Comando Vermelho
Nas últimas duas semanas, 35 criminosos foram presos no RJ e em outros estados numa operação da Polícia Civil do Pará, com apoio do Ministério da Justiça. O objetivo é frear a expansão do CV.
O delegado Gustavo Fossati afirma que não é mais possível falar que os criminosos do Comando Vermelho sejam apenas traficantes:
“Aqui no Rio de Janeiro, a gente costuma tratar os integrantes do Comando Vermelho como traficante, né? Na verdade, eu acho que isso já passou. Hoje, o Comando Vermelho busca o domínio territorial, e o domínio territorial vai muito além do tráfico de drogas.”
“O Comando Vermelho busca principalmente a extorsão de comerciantes. No Pará, nós temos um grave problema. Aqui no Rio de Janeiro, também isso já é antigo, com essa extorsão, cobrando taxas do crime, taxas altíssimas para que eles possam desenvolver suas atividades econômicas, e isso vem causando um problema nacional”, diz o delegado.