O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) solicitou, nesta segunda-feira (26), que a Santa Casa de Misericórdia da Bahia interrompa imediatamente o uso do estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré, em Salvador. O local é onde escavações revelaram indícios do que pode ser o maior cemitério de pessoas escravizadas da América Latina.
A recomendação foi anunciada durante coletiva de imprensa realizada na sede do MP-BA, com participação das promotoras de Justiça Lívia Vaz e Cristina Seixas, da pesquisadora Silvana Olivieri, da arqueóloga Jeanne Dias e do professor Samuel Vida. O grupo apresentou os primeiros achados das escavações feitas no terreno, que podem dar origem ao ‘Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos’.
Segundo os pesquisadores, o local pode abrigar restos mortais de mais de 100 mil pessoas – entre escravizados, pobres, indigentes, excomungados, suicidas, prostitutas, criminosos e insurgentes – que foram enterradas no antigo Cemitério do Campo da Pólvora, entre o final do século XVII e meados do século XIX.
As escavações, feitas ao longo de dez dias, revelaram ossadas a cerca de 2,7 metros de profundidade. O solo ácido e úmido tornou os materiais extremamente frágeis, e por isso a equipe optou por não retirá-los nem divulgar imagens, priorizando a preservação. Fragmentos localizados no local serão enviados para a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde ficarão guardados para futuras análises.
“A partir dessa confirmação das suspeitas sobre a existência do cemitério, o Ministério Público adotará providências para preservar o local, que já deve ser considerado um sítio arqueológico”, afirmou a promotora Lívia Vaz.
O processo de reconhecimento da área como sítio arqueológico já foi encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O superintendente do órgão na Bahia, Hermano Queiroz, participou da coletiva e afirmou que uma audiência pública será realizada em breve para discutir a preservação do local com a sociedade civil e especialistas.
“Estamos diante de uma reparação histórica. Esse cemitério foi invisibilizado por camadas de aterro que escondiam a verdadeira história da cidade”, ressaltou o arqueólogo Luiz Antônio Pacheco.