O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) denunciou Matheus Brião de Souza, de 21 anos, por estelionato envolvendo ao menos 14 vítimas e um prejuízo estimado em R$ 2,6 milhões. Segundo a denúncia, apresentada no mês passado, o acusado criou um esquema fraudulento que simulava a existência de um fundo de investimentos em criptomoedas, quando tinha apenas 18 anos.
Sem ter sequer aberto uma empresa formal, Brião teria utilizado promessas de alto retorno financeiro, contratos falsos com timbres de um escritório de advocacia familiar e extratos forjados para induzir as vítimas ao erro e obter recursos ilícitos. A promotoria pede a prisão preventiva do jovem, alegando risco de fuga e o uso dos valores desviados para evitar sua localização.
Entre março e outubro de 2022, Brião teria induzido diversas pessoas a realizarem transferências bancárias para sua conta pessoal, alegando gerir um fundo de investimentos baseado em swing trade e day trade com criptoativos.
Para transmitir confiança, usava o nome de um antigo escritório dos pais — “Brião & Sousa Advogados Associados” — e firmava contratos de “gestão e consultoria” com aparência profissional. O escritório deixou de existir e atualmente opera sob o nome de “Brião Advogados”, agora comandado apenas por sua mãe, Michele Brião, que não se pronunciou até o momento.
Além dos documentos, Brião apresentava extratos que mostravam lucros fora da realidade do mercado e, em alguns casos, chegou a devolver pequenas quantias a investidores, para alimentar a falsa sensação de segurança.
No fim de 2022, as devoluções cessaram. Relatórios deixaram de ser enviados e, segundo o MP, o acusado desapareceu. Seu paradeiro segue desconhecido e ele nunca foi ouvido pela polícia.
LUXO
A investigação aponta que Brião circulava entre festas de luxo e baladas em Florianópolis, onde conseguiu atrair investidores com alto poder aquisitivo. Uma das vítimas é Matheus Domingos, que diz ter perdido mais de R$ 227 mil ao lado de um amigo. Posteriormente, Domingos foi contratado para “ajudar a estruturar” o fundo, que chegou a ser chamado de “Eagle Management Crypto Currencies”, embora jamais tenha existido oficialmente nem possuído CNPJ.
“Desde o começo eu suspeitava, então estava sempre cobrando explicações. Mas também estava empolgado. Eu acreditava ser um projeto bem legal. Mas não era”, lamenta Domingos, que atualmente move uma ação trabalhista contra um dos envolvidos e foi uma das testemunhas ouvidas pelo MP.
SUPOSTOS SÓCIOS
Dois nomes que apareceram ligados ao esquema foram os de Igor Lopes e Diego Druck, este último conhecido como DJ e influenciador digital em Santa Catarina. Ambos chegaram a indicar clientes ao suposto fundo e foram citados em notícia-crime por outras vítimas, que os acusaram de terem colaborado com o golpe.
No entanto, a Promotoria concluiu que não havia indícios de que eles participaram da fraude ou se beneficiaram dos valores desviados. Para o promotor Mauricio de Oliveira Medina, eles também foram vítimas, enganados por Brião.
As defesas dos dois reforçam a tese. Os advogados de Druck afirmam que ele também teve prejuízos financeiros e procurou imediatamente as autoridades ao perceber a fraude. A equipe jurídica de Igor Lopes declarou que o jovem foi instrumentalizado por Brião, que usou sua influência para ganhar credibilidade entre investidores da elite catarinense.
De acordo com o MP, o número real de vítimas pode ser significativamente maior, já que há pessoas identificadas que não formalizaram denúncia. O órgão pede que quem foi lesado se manifeste, tanto para a investigação criminal quanto para ações de ressarcimento civil.
A promotoria solicitou a devolução de todo o valor atualizado pela inflação e reforça a necessidade da prisão preventiva de Matheus Brião, que permanece foragido.
