Em meio ao agravamento da crise econômica que afeta principalmente os brasileiros mais pobres — com inflação pressionando alimentos básicos, aumento da inadimplência e insatisfação crescente com a política fiscal — a imagem da primeira-dama Janja Lula da Silva circulando pelas lojas de grife do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, acendeu uma nova controvérsia nas redes sociais e no meio político. A revelação foi feita pela coluna Radar da revista Veja.
O episódio ocorreu na última sexta-feira (04/07), quando Janja, após acompanhar ministros em agendas institucionais no interior do estado, reservou um tempo para compras pessoais no centro comercial mais caro da capital fluminense. Segundo testemunhas, a primeira-dama experimentou vestidos, biquínis e atendeu a pedidos de autógrafo de admiradores. Tudo ocorreu em meio à atmosfera elitista do shopping, conhecido por não ser “um shopping de massa” e por abrigar marcas de luxo voltadas ao público de alto poder aquisitivo.
O fato poderia passar despercebido, não fosse o contexto político e econômico. O governo Lula tem intensificado, nos últimos meses, uma narrativa de enfrentamento às elites econômicas, apostando na imagem do presidente como “pai dos pobres”. A defesa de novos impostos, como o aumento da alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), tem sido justificada por Lula como forma de combater privilégios e financiar políticas sociais.
No entanto, o passeio da primeira-dama em um local símbolo do consumo de luxo coloca em xeque a coerência dessa narrativa. Para críticos, a cena retrata um governo que, ao mesmo tempo em que aumenta a carga tributária dos mais pobres, mantém hábitos e posturas alinhadas ao consumo de elite.
Janja se casou com o presidente em 2022, quando Lula já havia acumulado patrimônio considerável, segundo documentos divulgados durante a Operação Lava Jato. As quantias, provenientes em parte de palestras e contratos com empresas investigadas por corrupção, reforçam a imagem de um casal presidencial que, embora mantenha o discurso do “povo”, desfruta de privilégios materiais típicos da elite econômica brasileira.
Não há crime em fazer compras, mas há simbolismo político. E o presidente Lula ainda tenta sustentar a imagem de líder próximo ao povo, resgatando frases de campanhas anteriores como a promessa de garantir “picanha e cervejinha” na mesa do trabalhador. Mas, com a alta de preços e uma economia que não decola, as contradições começam a emergir.
A tentativa de justificar aumentos de impostos com base na necessidade de “distribuir melhor a renda” perde força quando a figura pública mais próxima do presidente circula livremente entre vitrines de grife, num dos bairros mais caros do Brasil.
A questão central não é a legalidade do ato, mas sua repercussão. Em tempos de redes sociais, imagens e vídeos valem mais que discursos elaborados. Um governo que luta para recuperar sua popularidade junto às camadas mais empobrecidas precisa de consistência simbólica. E nisso, o passeio de Janja no Leblon se torna um tiro no pé da comunicação palaciana.
No Brasil real, onde o arroz, o ovo, o feijão e o café pesam no orçamento das famílias, a cena de uma primeira-dama às compras em um templo de luxo soa como uma ironia amarga. É o retrato de um poder que, cada vez mais, se distancia do povo — mesmo quando insiste em falar por ele.