No futebol, quando uma das engrenagens falha de forma recorrente, o time inteiro sofre as consequências. O caso do goleiro Marcos Felipe, titular do Bahia, já ultrapassou o limite do aceitável. A sucessão de falhas do arqueiro nas principais competições — Sul-Americana, Brasileirão e Libertadores — tem deixado a torcida e até a própria história do clube em xeque.
Não se trata de perseguição, mas de fatos concretos e repetitivos. A falha grotesca na eliminação recente diante do América de Cali, onde Marcos Felipe ofereceu de bandeja o gol ao adversário após uma saída de bola errada, é apenas o último ato de um enredo trágico. Errou nos quatro últimos jogos e permitiu três gols bobos em favor, além do América de Cali, do Fortaleza e do Atlético Mineiro. Ainda foi responsável direto pela eliminação na Libertadores, quando falhou na derrota por 1 a 0 para o Atlético Nacional. É um ciclo de equívocos técnicos e táticos que afundam o desempenho do Bahia nos momentos decisivos.
Mais grave do que o erro em si é a postura do jogador: ao invés de recompor-se, ele se dedica a reclamar, gesticular e esquecer seu papel principal. O goleiro não pode ser apenas um defensor de bolas, mas também um líder silencioso, confiável, que transmite segurança. Marcos Felipe é o oposto: instável, reativo e, o mais preocupante, sem poder de recuperação emocional dentro de campo.
A crítica se amplia para um dos melhores goleiros da história do futebol brasileiro, o técnico Rogério Ceni, que insiste na titularidade de um jogador que, além de comprometer em campo, parece afetar o psicológico do sistema defensivo. O Bahia tem elenco, tem investimento e tem projeto. O que falta é um goleiro à altura do seu escudo. Que saudade do guerreiro camaronês William Anden, do ágil Emerson Ferreti e do grandalhão Jean.
E quando olhamos para a diretoria, liderada por Cadu Santoro, a sensação é de inércia. Como explicar a permanência de um atleta em baixa performance quando há recursos, scouting internacional e um mercado farto de goleiros qualificados na América do Sul e até na Série B nacional? A resposta parece estar entre o conformismo e o erro de gestão.
Esse cenário de desconfiança escancara um Bahia que precisa urgentemente resgatar a meritocracia e o senso de responsabilidade. Um clube com a grandeza do Tricolor de Aço, com a torcida mais apaixonada do Nordeste, não pode se dar ao luxo de normalizar falhas sucessivas, principalmente em um setor tão sensível como o gol.
Parafraseando a frase histórica do ex-governador Otávio Mangabeira, pense num absurdo, o Bahia tem precedentes. Mas isso não precisa continuar sendo verdade. Está na hora de o Bahia agir à altura de sua camisa — que, sim, é pesada, mas também gloriosa. E quem não estiver à altura, que dê lugar a quem esteja.
*Ramon Margiolle é jornalista, foi repórter esportivo e editor de programas de televisão e é CEO do Informe Baiano