A exportação de pescados brasileiros foi interrompida nesta quinta-feira (10/07), um dia após o governo dos Estados Unidos anunciar uma sobretaxa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida causou impacto imediato nos portos do país, incluindo Salvador, onde dezenas de contêineres já estão parados sem previsão de embarque.
Segundo a Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), 58 contêineres frigoríficos carregados com aproximadamente mil toneladas de peixes deixaram de ser exportados para o mercado norte-americano. As cargas, que incluem tilápia, lagosta e atum de profundidade, estão estacionadas em terminais portuários da capital baiana, além de Pecém (CE) e Suape (PE), enquanto o setor aguarda uma definição sobre os efeitos da nova taxação.
O tempo médio para o transporte marítimo até os EUA varia entre 18 e 20 dias. Com o novo custo tarifário, os importadores americanos já suspenderam os pedidos, temendo prejuízos. A paralisação afeta diretamente o setor, que movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano e exporta aproximadamente US$ 600 milhões — sendo de 70% a 80% destinados ao mercado americano.
A tilápia é um dos produtos mais afetados. Dos 500 toneladas exportadas por mês, 95% vão para os Estados Unidos. A lagosta e o atum longline também têm 90% de suas produções voltadas à exportação, com o mercado americano como principal comprador.
A cadeia de exportação de pescados no país envolve cerca de 5.900 empregos diretos e outros 38 mil indiretos, abrangendo pescadores artesanais e aquicultores familiares. Com a suspensão das exportações, o impacto socioeconômico pode se intensificar caso a sobretaxa se mantenha.
A medida americana também provocou reações em outros setores do agronegócio. Produtores de suco de laranja, carne e café demonstraram preocupação diante do risco de inviabilidade econômica nas exportações para os EUA. Só o setor de suco de laranja, por exemplo, depende do mercado externo para escoar 95% da produção — sendo 42% comprada pelos americanos.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) emitiu nota criticando a decisão do governo dos EUA, afirmando que a medida “afeta diretamente a competitividade do agronegócio nacional, impacta o câmbio e pode provocar alta no custo de insumos importados”. O governo brasileiro, por sua vez, já sinalizou que pode aplicar o princípio da reciprocidade, adotando uma alíquota semelhante sobre produtos americanos.
Enquanto o impasse não é resolvido, os contêineres permanecem travados nos portos, à espera de uma saída diplomática.