Prestes a completar 11 anos, o Grupo Especial de Proteção Ambiental (Gepa) da Guarda Civil Municipal (GCM) já resgatou mais de 15 mil animais silvestres e exóticos, desde que foi criado, em agosto de 2014. Salvador é uma das poucas capitais brasileiras a contar com uma unidade ambiental vinculada à corporação, atuando na educação ambiental, no resgate de animais silvestres e também na fiscalização, em parceria com outros órgãos federais, estaduais e municipais.
Há três anos, o grupo passou a atuar no Parque das Dunas, maior parque urbano do Brasil, com 690 hectares, situado em Stella Maris e administrado pela Universidade das Dunas e Restingas da Cidade de Salvador (Unidunas), com o apoio da Prefeitura. A parceria fortaleceu a estrutura do Gepa, que hoje presta um serviço essencial na cidade.

“O Gepa é responsável por 90% das ligações que a população realiza para a Guarda Municipal. Somos acionados 24 horas por dia. A população reconhece o nosso trabalho e sabe a quem recorrer. Além disso, nós já treinamos 22 unidades ambientais de Guardas Municipais de outros municípios baianos, a exemplo das unidades de Vitória da Conquista, Itapetinga, Alagoinhas, Amargosa, Senhor do Bonfim, Santo Antônio de Jesus, Cachoeira, Governador Mangabeira e Esplanada”, destaca Robson Pires, coordenador do Gepa.
Para o presidente da Unidunas, Jorge Santana, a parceria com o Gepa é importantíssima. “É fundamental para os parques de Salvador, principalmente para o Parque das Dunas, que é uma área de proteção integral dentro da capital baiana. Nós somos uma reserva da Biosfera da Mata Atlântica, com reconhecimento pela Unesco. Somos o maior parque urbano do Brasil, com 690 hectares e já estamos aqui há 30 anos”, explica.
“Para nós, ter a Guarda Municipal e, principalmente o Gepa, é importantíssimo e nos ajuda na difícil tarefa de administrar 6 milhões e 900 mil metros quadrados de área. Se a gente observar, é o único bairro dentro da cidade de Salvador que não tem uma invasão sequer. Então, os bairros de Stella Maris, Praia do Flamengo e adjacências ganham muito com esse que é o maior parque urbano do Brasil e com a segurança e atuação do Gepa”, completa.
Resgates – Este ano, mais de 3.500 animais silvestres e exóticos foram resgatados em Salvador, entre eles, alguns em ações de combate ao comércio de animais exóticos no município, em parceria com a Polícia Federal, a exemplo de cobras, aranhas, escorpiões, lagartos, tenébrios, minhocas e besouros, enviados pelos Correios e geralmente utilizados para alimentar outras espécies.
O Gepa também atua em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em ações de resgate de aves silvestres e de animais exóticos. Com exceção do comércio ilegal, os animais mais resgatados na cidade são as jiboias, saguis, sariguês, iguanas, corujas e gaviões.
Um dos resgates que mais chamaram atenção este ano, pela quantidade, foi o de 200 filhotes de tartarugas que nasceram e seguiram em direção contrária ao mar, no bairro de Piatã. “A população nos acionou, nós fomos ao local imediatamente e conseguimos resgatar todas as tartaruguinhas com vida. Se não tivéssemos chegado, aqueles animais provavelmente teriam morrido. A população nos ajuda muito a fazer os resgates, pois são eles quem primeiro avistam os animais, então esse contato conosco é fundamental”, salienta Pires.
Cetas Municipal – Com o apoio da Unidunas, o Gepa está desenvolvendo algumas iniciativas para viabilizar a implantação de um novo Centro de Triagem de Animais Silvestres Municipal no Parque das Dunas. A unidade funcionará como um centro especializado para a triagem, cuidados veterinários e reabilitação dos animais resgatados para uma posterior soltura.
O objetivo também é permitir, sempre que possível, a reintrodução da fauna dentro do próprio município. O trabalho para a implantação do Cetas está em fase de aprovação de projeto junto ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema).
“Atualmente, nós resgatamos os animais e encaminhamos para o Cetas do Inema, em Pituaçu. Lá, esses animais têm um primeiro atendimento com o biólogo e com o veterinário, que identificam a espécie, verificam se o animal está sadio, se tem alguma sequela, se precisa passar por algum exame ou receber alguma medicação. Se o animal estiver sadio, em três dias ele vai para a soltura”, afirma Pires.
“Um dos principais problemas hoje é que a maioria das áreas de soltura do Cetas do Inema fica fora do município, então nós estamos esvaziando a nossa fauna e essa é uma preocupação da prefeitura e da Guarda Municipal, que os animais com possibilidade de reintrodução em Salvador tenham essa chance, com a criação do Cetas Municipal”, completa o coordenador.
Ele conta que é importante que os seres humanos possam preservar esses animais, entendendo que eles são importantíssimos para o equilíbrio dos pequenos biomas que ainda existem na cidade. Ele dá um exemplo do sariguê, que é um controlador natural, pois come escorpião, aranha e cobra, mantendo o ecossistema em equilíbrio.
Com base na importância dessa conscientização da população, o Gepa também conta com dois programas de educação ambiental, um deles focado na realização de palestras em escolas públicas e particulares para crianças de 2 a 12 anos, e outro voltado para adultos, principalmente na área de formação de equipes de resgate de animais silvestres dentro do município de Salvador. Este segundo está voltado para órgãos públicos, particulares, condomínios, empresas e shoppings.
“Nós treinamos essas equipes para que possam fazer a contenção, não o resgate. O objetivo é ensinar a se comportar quando vir o animal, conter o animal e chamar as equipes do Gepa para o resgate e encaminhamento para o Cetas. Em primeiro lugar, o nosso foco é a educação, pois sabemos que a educação transforma. Quem não quiser se educar, infelizmente terá que ser fiscalizado”, adverte Pires.
Orientação – Ao avistar um animal silvestre, a orientação é de que a população não tente capturá-lo, que, se possível, isole a área, e sempre acione o Gepa pelo telefone (71) 3202-5312. O serviço funciona 24 horas, com equipe treinada e a utilização de equipamentos adequados para garantir a segurança tanto do animal quanto do agente responsável pelo resgate. Em caso de acidentes causados pelo contato com algum animal silvestre, a recomendação é se dirigir à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima e o mais rápido possível, especialmente no caso de picadas de cobras e animais peçonhentos.