As recentes atitudes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), têm gerado crescente insatisfação entre setores do empresariado nacional, que antes formavam a base de apoio político e financeiro do ex-mandatário. A informação foi divulgada pelo jornalista Valdo Cruz, do G1.
Segundo a reportagem, empresários influentes já mandaram recados ao Centrão e a outros interlocutores políticos de Brasília deixando claro que repudiam as movimentações recentes da família Bolsonaro, especialmente em relação ao acirramento de tensões com os Estados Unidos e à condução do episódio envolvendo a nova tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros.
“Estão rifando o Brasil por interesse próprio”, teria resumido um importante nome do setor produtivo.
O ambiente de ruptura se intensificou após Eduardo Bolsonaro ter endossado a decisão de Trump e feito publicações em redes sociais criticando o governo brasileiro, inclusive usando termos considerados “irresponsáveis” por líderes empresariais. O comportamento foi lido como contraproducente e perigoso para a imagem internacional do Brasil, especialmente no momento em que setores da indústria e do agronegócio buscam diálogo para mitigar os impactos das sanções comerciais americanas.
Em contrapartida, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro, tem ganhado elogios pela postura mais pragmática e moderada.
Durante agenda em Cerquilho (SP), Tarcísio disse que o momento exige “união de esforços” e que é preciso deixar a “questão política de lado” para enfrentar a crise causada pelas tarifas. A fala foi interpretada como uma tentativa de se descolar do bolsonarismo radical e sinalizar disposição ao diálogo com o governo federal e com outros setores da sociedade.
“É isso que se espera de um político que pensa no país e não apenas no seu grupo político”, disse um empresário do ramo industrial ao G1.
A postura do empresariado reflete um movimento mais amplo de distanciamento do bolsonarismo, especialmente após o ex-presidente ter sido condenado por abuso de poder político e tornar-se inelegível. O desgaste é agravado por investigações envolvendo supostos esquemas de desinformação, tentativa de golpe e uso indevido da máquina pública.
Nos bastidores, há a percepção de que Bolsonaro tem se tornado um “peso político”, e que líderes como Tarcísio, Romeu Zema (MG) e Ratinho Jr. (PR) já articulam uma agenda independente visando as eleições de 2026, com maior foco na responsabilidade fiscal e previsibilidade institucional.
Enquanto isso, o governo Lula tenta se articular internacionalmente para reverter ou minimizar os impactos da tarifa americana, com o Itamaraty e o Ministério da Fazenda atuando em paralelo às reações políticas internas.