O fortalecimento de políticas públicas para dar maior visibilidade e a devida valorização aos afoxés foi um dos temas debatidos na noite de quinta-feira (29) durante a sessão especial solicitada pela vereadora Marta Rodrigues (PT) em homenagem ao Dia Municipal do Afoxé, comemorado todo ano no dia 30 de novembro.
A solenidade este ano, no entanto, teve um tom marcante e um grito de resistência que ecoou no plenário Cosme de Farias da Câmara de Salvador: Moa Vive! Assassinado após uma discussão política nas imediações do Dique do Tororó, em outubro deste ano, o mestre de capoeira e fundador do Afoxé Badauê, Moa do Katendê, foi a todo tempo homenageado e teve sua história reverenciada por todos os presentes.
A sessão foi iniciada com a vereadora Marta ressaltando a importância de fortalecer os afoxés como uma manifestação artística-cultural que representa a história da Bahia e sua relação com a África. “Os afoxés, conhecidos como candomblés de rua, exercem o papel de estabelecer uma ponte entre a manifestação religiosa e a o Carnaval. Ao longo dos anos, sofreram vários tipos de violência, resistiram a muito preconceito e intolerância religiosa. Vivemos um cenário político, hoje, muito conturbado e precisamos reforçar esse legado trazendo este debate para a Câmara”, diz.
Filha caçula de mestre Moa, Jasse Mahi, 27 anos, ressaltou a necessidade de sessões como a ocorrida para que a população tenha conhecimento de que o afoxé é um instrumento cultural ‘poderoso’ e capaz de aproximar as pessoas de sua espiritualidade com alegria e festividade. “Falar do afoxé e da representatividade do meu pai é falar de força e resistência. Essa força que o afoxé vem transmitindo é muito importante. Sessões como essas são necessárias para que consigamos mais apoio através da união e da força”, disse.
Além de Marta e Jasse Mahi, marcaram presença na mesa o deputado estadual Bira Coroa (PT); o diretor-geral do IPAC, João Carlos Cruz de Oliveira, representando a secretária de Cultura, Arany Santana; o assessor especial da Sepromi, Ailton ferreira, representando a secretária de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis; o gerente de equipamentos Culturais da Fundação Gregório de Matos, Chico Assis, representando o presidente Fernando Guerreiro; Chico, do Afoxé Filhos de Gandhy; Nadinho do Congo, do Afoxé Filhos do Congo; a presidente do Afoxé Laroiê Arriba, Soraia Gomes; e a presidente do Afoxé Omo Obá Dê e representante da União dos Afoxés de Pernambuco.
Ex-presidente do Filhos do Congo, Nadinho ressaltou que o afoxé não pode ficar como terceiro plano no orçamento da cultura e precisa ganhar a devida visibilidade no Carnaval durante as transmissões das televisões. “O Afoxé é a primeira africanização na Bahia e daqui sai para Sergipe. As Televisões precisam valorizar a cultura do nosso povo, não podem deixar para trás a cobertura dos desfiles de afoxés, dando ênfase apenas ao que é comercial na nossa festa”, disse.
A vereadora ainda lembrou do trabalho realizado junto ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), responsável por considerar o afoxé patrimônio imaterial, na elaboração do Plano de Salvaguarda dos Afoxés. Segundo o diretor do Instituto, João Carlos, a resistência nos próximos anos vai ser no âmbito da cultura e é preciso garantir espaços que não sejam só de propaganda, mas de política pública. “Estaremos enfrentando dificuldades e precisaremos estar atentos. Uma das primeiras pessoas que recebi em reunião de trabalho foi de um afoxé falando da dificuldade de se manter não só no Carnaval mas o ano inteiro. Mas o IPAC mesmo com o orçamento pequeno tem se esforçado muito para cumprir suas tarefas. Temos que compreender a trajetória dura e difícil e aqui também temos que perfazer essa batalha”, afirmou.
Durante a sessão, houve a apresentação cultural de Negra Dhô, Filhos e Filhas de Gandhy, Filhos do Congo, dop Afoxé Laroiê Arriba, Jorjão Bafafé e Julio Cezar, do Pai Burucô.
