“Liberdade, liberdade” promete entrar para a história da teledramaturgia brasileira como a primeira novela a exibir uma cena de sexo entre dois homens. A atração que o sensível André (Caio Blat) e o bruto coronel Tolentino (Ricardo Pereira) sentem um pelo outro será consumada no capítulo 54 da trama, previsto para ir ao ar no dia 12 de julho.
“Eu me sinto honrado e orgulhoso de estar contando essa história. É sinal de que a sociedade já está madura o suficiente para tratar de certos assuntos que até então eram considerados tabus. Estamos prontos para falar mais abertamente sobre homossexualidade na TV”, afirma o ator Caio Blat.
Mário Teixeira, autor da novela, diz que, mesmo tratando-se de um assunto delicado, não impõe limites a seu texto.
“Eu não controlo nada, a escrita é absolutamente libertária. Conto a história como ela deve ser contada. Não vai haver sexo explícito, é óbvio, porque trata-se de televisão e porque sexo explícito é uma coisa de mau gosto. E, nesse caso, são dois galãs, duas estrelas da TV. É uma história que é levada da forma que tem que ser. Não com leveza, mas com verdade. Acho que as pessoas vão entender isso”, afirma o autor, explicando que enxerga o relacionamento entre André e Tolentino como qualquer outro: “É um amor de um homem por outro, mas podia ser de um homem por uma mulher. Para mim, sinceramente, não tem diferença. Amor e desejo não têm sexo”.
No tom exato
A cena ainda não tem previsão para ser gravada, mas os dois atores e o diretor Vinícius Coimbra já conversaram sobre referências diversas. Nas rubricas do capítulo, o autor assinala: “André abraça Tolentino. Que corresponde. Clima. Tempo. Olhos no olhos. André aproxima o rosto para um beijo. Tolentino vira o rosto, recusando a princípio, atormentado, mas por fim não resiste. É um beijo represado, afoito, desesperado, angustiado. Tira a camisa. André engole em seco. Tolentino o empurra para a cama. André cai sentado. Começam a transar. Na transa urgente, adiada, bruta e tão ansiada”.
“A novela tem uma linguagem de época, as cenas têm trazido uma dose de violência, de brutalidade, e a gente não tem como fugir disso. Mas acho que essa sequência vai ser dirigida com toda a leveza possível. Vinícius tem o tom exato que quer dar para a história. Já conversamos bastante sobre várias referências, mas só na hora a gente vai ver como fica junto com a luz, a câmera, a edição, a sonorização, enfim, é um processo longo até chegar ao resultado final. Tenho certeza de que vai acompanhar o bom gosto e a qualidade que são marcas da obra”, afirma Caio.
Torcida pelo casal
Até então, a cena de beijo entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), em “Amor à vida” (2014), tinha sido a maior ousadia da TV aberta quando o assunto é relacionamento gay. Na época, o casal ganhou a simpatia e a torcida do público para que terminasse junto, assim como tem acontecido com André e Tolentino.
“Todo mundo torce a favor deles. Tenho recebido uma resposta muito boa dos gays, que se sentem representados pela dor e pela angústia dos dois. Querer ficar junto, mas ter que lutar contra o medo pela repressão. Toda forma de preconceito e de violência é inaceitável”, defende Caio, contando que seu personagem será massacrado na trama: “Ele vai ser denunciado por sodomia, preso, processado e, provavelmente, mandado para a forca. Vamos mostrar como é medieval e absurdo esse tipo de perseguição”.
Ricardo Pereira concorda. “O amor que existe ali é lindo e traz muito do que a novela defende: a luta contra o preconceito e a intolerância, pela igualdade entre todas as pessoas”.
Vinícius Coimbra acredita que o debate acerca da esperada cena vá além da questão da homossexualidade. “Deve refletir o drama de cada pessoa que sofre algum tipo de repressão ou condenação social, seja por sexo, cor, religião ou qualquer outra forma de segregação”.
Fonte: Extra Globo