Pressão grande, inimigo invisível, batalha árdua e ignorância. Não está nada fácil a guerra contra a Covid-19. Para completar, boa parte das pessoas nem imagina as dificuldades enfrentadas pelas autoridades. São incapazes de se colocar no lugar do outro. Priorizam a politicagem. Só fazem negar, reagir, criticar e ofender. A rede social virou filme de assombração. É tanta asneira e grosseria que a vontade é evitar. Mas não tem como, pois observar esses comportamentos também faz parte da rotina dos profissionais de imprensa.
No início da manhã desta segunda-feira (01/03), o governador Rui Costa não conseguiu segurar as lágrimas e ficou emocionado em entrevista ao Jornal da Manhã, da TV Bahia. A reação aconteceu quando o gestor, que é pai de três meninas, comentou o caso de um homem que perdeu a filha de 16 anos para a Covid-19. Rui pediu desculpa e desabafou: “Não é fácil, não. É duro você receber mensagens. As pessoas perguntam assim: ‘e o meu negócio e a minha loja?’ O que é mais importante: 48 horas de uma loja funcionando ou vidas humanas?”, questionou. Sensíveis, os apresentadores Ricardo Ishmael e Thaic Carvalho comentaram a situação tensa e lembraram que um grupo de 200 cientistas denominou o momento atual como “anti-sala do caos”. Na Bahia, são 684.037 casos de pessoas contaminadas e 11.819 óbitos.
Três horas depois, mais um capítulo tenso para os jornalistas. Hora da entrevista, via aplicativo Zoom, com o prefeito de Salvador Bruno Reis, que costuma ser bem humorado. Muitos na torcida: “acho que diminuiu o número de leitos ocupados”. Não, não diminuiu. Ao longo dos mais de 15 anos de carreira nunca presenciei uma coletiva tão tensa e dolorosa. Rezei por uma resposta positiva, mas não aconteceu.
Imaginei: ‘quando chegar na minha vez, farei uma pergunta mais descontraída e mais positiva’. Porém, nenhum colega provocou sobre o aumento dos combustíveis anunciado hoje pela Petrobrás. Não poderia me furtar, não poderia deixar de seguir no mesmo caminho dos colegas. Enquanto isso, os gestores baianos, assim como profissionais de saúde, de segurança e de imprensa, estão no limite do esgotamento. Os que criticam, a hora é de colaborar. Afinal, quatro aviões do tipo Boeing estão caindo diariamente no Brasil. Total: 254.942 mortes.
Por Ramon Margiolle/Editor do Informe Baiano