Usuários de maconha relataram que há escassez da droga, do tipo prensada, em São Paulo. A situação vem sendo relatada há duas semanas, segundo reportagem da Folha. Vale lembrar que a venda e o porte da droga são proibidos.
Os relatos apontam que está faltando o produto processado, geralmente misturado a outras substâncias, fazendo dele mais barato. Por isso, é também o tipo mais consumido.
Os motivos da escassez seriam grandes apreensões das forças de segurança do estado liderado pelo governador Tarcísio de Freitas e a entressafra da planta, além de um suposto problema de distribuição gerado por um racha na facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Uma estudante que mora em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, contou para a Folha que a falta da droga fez ela subir de preço no mercado ilegal. O valor da grama passou de R$ 10 para R$ 19, segundo ela. Além disso, o traficante estabeleceu um limite de quantidade por comprador.
Acrescentou também que passou a consumir outras substâncias devido à escassez da droga, incluindo skunk (uma variedade mais cara e potente da Cannabis), LSD e cogumelos alucinógenos.
Um outro usuário disse que tem trocado prensado por outras drogas com amigos. O produto teria origem no Paraguai e chega a São Paulo em carros e caminhões —modalidade bastante suscetível a apreensões.
Há ainda outras questões que afetam a disponibilidade da droga na cidade. Neste mês, a maconha está em seu período entressafra, e qualquer interceptação de carga pode prejudicar o fornecimento, afirma ele.
A reportagem lembra que uma ação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em São Paulo, há uma semana, resultou em mais de 300 quilos da droga aprendidos num carro na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-225), em Bauru, interior do estado.
“Essa viagem da maconha do Paraguai até São Paulo é tosca. Ela é feito geralmente por mulas, motoristas de caminho, caminhoneiros ou motoristas de carro”, afirma o jornalista Allan de Abreu, autor de “Cocaína: A Rota Caipira” (editora Record), sobre a história do narcotráfico no Brasil.
“Ocorre dessa forma porque a mercadoria é mais barata. Se o transportador for pego, é possível que ela seja reposta com uma certa facilidade”, afirma. “Já a cocaína, mais cara, vem de avião.”
O delegado de uma unidade especializada em investigação de entorpecentes confirmou para a publicação que há atraso na distribuição de prensado para pontos de tráfico. Ele lembra que um grupo liderado por Roberto Soriano, o Tiriça, passou a disputar o controle da facção com a ala de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe máximo do grupo. Tiriça é apontado como o responsável por gerenciar o tráfico de maconha dentro do PCC. Por isso, a distribuição da droga teria sido afetada pela disputa.
Já outro delegado que também se dedica a essas investigações vê a entressafra e o aumento das ações de apreensão como mais determinantes para uma possível falta da droga no mercado. Na avaliação dele, o negócio da facção é predominantemente o tráfico de drogas, mas o tráfico é maior do que a facção. Também foram ouvidos relatos da ausência da maconha barata em pontos de drogas nas regiões do Sacomã e do Jabaquara, ambas na zona sul.