O médico responsável pelo pronto-socorro do hospital de Montichiari, na província de Bréscia, na Itália, foi acusado de adotar uma prática totalmente fora dos protocolos: a aplicação de doses mortais de remédios inapropriados em pacientes internados com sintomas graves da Covid-19. As situações ocorreram em março do ano passado quando a Itália vivia o auge da primeira onda da pandemia.
O caso se tornou público na última segunda (25/01), depois que Carlo Angelo Mosca, 47 anos, recebeu ordem de prisão preventiva domiciliar porter matado intencionalmente pacientes com o anestésico propofol e succinilcolina, um bloqueador neuromuscular. Essas substâncias potentes são indicadas para situações de intubação pela traqueia, procedimento a que as vítimas não foram submetidas.
Na sexta (29/01), Mosca foi interrogado por duas horas e meia no Tribunal de Bréscia. Ele negou as acusações e, segundo seus advogados, deu esclarecimentos. Pouco antes das 10h, o médico chegou andando sozinho e foi cercado por jornalistas e câmeras. Em voz baixa, disse: “sou inocente”.
A juíza Angela Corvi aceitou o pedido do Ministério Público para a prisão domiciliar e justificou sua decisão dizendo reconhecer “graves indícios” de que Mosca cometeu homicídio doloso qualificado em pelo menos dois pacientes: Natale Bassi, 61, e Angelo Paletti, 79.
Mosca, segundo profissionais de saúde, pedia que alguém buscasse um ou os dois medicamentos e os aplicava quando estava sozinho. No caso do paciente Bassi, ele pediu que a equipe saísse da sala de emergência.
“Poucos minutos depois, a funcionária voltou, percebendo a morte de Bassi, naquele momento desacompanhado de membros da equipe. O óbito foi declarado pela doutora [nome omitido], que indicou no prontuário ‘repentina parada cardio-circulatória'”, diz o documento assinado pela juíza, com base na investigação.
No caso de Paletti, funcionários encontraram e fotografaram embalagens vazias dos fármacos na manhã seguinte à morte do paciente, ocorrida durante o plantão do médico suspeito. A investigação teve como ponto de partida a denúncia anônima de um dos enfermeiros, no fim de abril. Em princípio, foram alistadas quatro vítimas. Três corpos foram exumados -o quarto paciente foi cremado.