A operação desastrosa em Itajuípe e a declaração de Rui Costa sobre o tal “confronto” que vitimizou o subtenente Alberto Alves dos Santos relembra outro caso chocante, que o governador classificou como “gol de placa” da polícia. Falo da investida que resultou em 12 pessoas mortas, na comunidade da Vila Moisés, no Cabula, em 2015. De lá para cá, nada mudou.
As duas ações trazem à tona mais uma vez a “política de confronto” ultrapassada que demonstra a absoluta crise na área da segurança pública.
Mais: como você está investigando um caso e já afirma que foi “confronto”? Ao invés de tentar amenizar o problema e levar conforto para familiares, o governador sentencia que ocorreu um “confronto”, um verdadeiro desrespeito a memória de um cidadão de bem. Esse caso precisa ser esclarecido. Afinal de contas, poderia ser qualquer um de nós.
O resultado dessa “política de confronto” são milhares de pessoas mortas, sejam elas criminosas ou inocentes, além de policiais extremamente abalados psicologicamente e respondendo diversos processos na Justiça Criminal. É um problema estrutural causado também pelo estresse devido à função policial e a ausência de suporte de saúde mental, como foi a situação do Soldado Wesley, na Barra.
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Não conheço nenhum integrante da Rondesp, por exemplo, que não responda a um auto de resistência. Pior, graças ao estímulo da “política de confronto”, os policiais baianos são vistos como verdadeiros inimigos por boa parte da sociedade, quando deveria ser o contrário. Isso é uma crueldade, não só contra a população , mas também contra o conjunto de forças de segurança, que deveria ser o último braço do Estado, mas na prática é o primeiro. A Saúde com a fila da morte e a Educação também nunca foram prioridades, tampouco lazer, esporte, geração de emprego e renda.
Lamentável, em pleno ano de 2022, a gente ainda ver cenas chocantes e declarações que potencializam um sentimento de revolta de boa parte dos baianos, que muitas vezes não entendem a chave do problema.
Estimular ações policiais sem um trabalho de inteligência e sem o mínimo de preparo é o mesmo que colocar uma guarnição sem armas na Faixa de Gaza. É o mesmo que invadir uma favela atirando aleatoriamente e matar o garoto Railan de 7 anos no Curuzú ou a bebê Agatha Sophia em São Marcos.
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Dizer que foi um “gol de placa” a morte de 12 jovens em “confronto” na Vila Moisés, no Cabula, é a revelação da necessidade profunda de uma reflexão, por exemplo, sobre determinados políticos que debatem cor de pele de candidato para desviar o foco dos problemas ao invés de falar de propostas efetivas.
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Policiais e população em geral precisam refletir profundamente sobre o momento que vivemos. Não há espaço para mais riscos, para mais barbárie. A Bahia é o estado do Brasil com maior quantidade de mortes violentas em 2021. Pasmem: 5.099 homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Força ao capitão Prado, ao sargento D’Almeida e a todos os amigos, e claro os familiares do paizão e gentemlan Alves. A segurança pública da Bahia precisa respirar!