Armas para o alto, uso de cocaína em via pública e moradores de bem aterrorizados dentro de casa. Assim foi o show do MC Juninho da 10, do Rio de Janeiro, no ano retrasado, no final de linha do bairro de Tancredo Neves, em Salvador. A festa aconteceu no Dia das Crianças. O local é considerado o Quartel General da facção criminosa Comando Vermelho (CV), que é liderado na Bahia pelo traficante Buel. O bandido está escondido no Rio de Janeiro.
O vocalista Davison Nascimento, da banda Oh Polêmico, anunciou em grupos de WhatsApp que vai fazer um baile no “pique Rio de Janeiro” no bairro. A festa deverá acontecer na Rua 8 de dezembro ou no final de linha. Esses locais concentram diversas ‘bocas de fumo’. Levantamento do IB revela que há, pelo menos três pontos de venda de entorpecentes na localidade. A maior e mais famosa funciona no ‘Escadão’. As outras duas ficam na Rua Carla e na Rua do Gás.
O IB revelou em reportagem publicada, nesta terça-feira (26/03), detalhes do evento programado para Sexta-feira Santa, dia 29 de março. Porém, não há nenhum autorização dos órgãos públicos, a exemplo da Prefeitura de Salvador e da Polícia Militar. A gestão municipal disse que não há registro de nenhum pedido para o ‘Baile Pique RJ’ ou ‘Baile do Polly’ na Central Integrada de Licenciamento de Eventos (CLE).
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) também foi questionada. A Pasta disse que, “até o momento, não houve comunicado formal sobre a realização do evento no determinado espaço público. Ressalta ainda que as ações preventivas, através do patrulhamento da Polícia Militar, serão realizadas na região, como acontecem diuturnamente”.
Em conversa com o IB, sob anonimato, moradores chegaram a relatar que sonham em deixar o local. “Quando chega o final de semana é um terror aqui. Esses paredões ninguém aguenta mais. A cada 10 famílias, nove quer se mudar daqui. Mas ninguém fala nada porque você sabe como, é, né? Quem manda aqui é o tráfico. O tráfico manda e desmanda. Todo mundo aqui é monitorado 24 horas”, disse uma dona de casa.
O IB também conseguiu falar com outras pessoas, sempre de forma velada. Gente de bem, maioria absoluta, que não suporta mais o poder paralelo. “Aquela reportagem que vocês botaram essa semana, sabe? Eles colocaram até um freezer na frente pra não passar nenhuma viatura. Pra vim aqui tem que ter várias viaturas. Eu quero ver agora com essa reportagem como é que vai ser. E eu vou lhe dizer mais. Toda a comunidade está com vocês. A gente não comenta, mas pode ter certeza que o povo está do lado da imprensa”, acrescentou.
O Informe Baiano entrou em contato com Davison e com seu produtor, Vitor Paganelli. O artista disse, em ligação por telefone, que a festa estava sendo patrocinada pela Prefeitura de Salvador. A informação foi negada pela gestão municipal. Já Vitor Paganelli afirmou que o ‘Baile do Polly’ era fruto de emenda parlamentar de um vereador. A informação também não procede. O IB apurou que nenhum dos quatro vereadores que atuam na comunidade destinaram recursos para contratação de banda no final de março.
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