Apesar da decisão do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), de devolver a delação do corretor Lúcio Funaro à Procuradoria-Geral da República (PGR), o governo se prepara para enfrentar nova crise quando a colaboração for divulgada. Por isso, o Palácio do Planalto tenta se antecipar a uma nova denúncia contra Michel Temer (PMDB-SP). E começou pela redistribuição de cargos.
Afilhados políticos de deputados que votaram contra Temer na primeira acusação apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva, estão sendo demitidos. Iniciadas há duas semanas, as dispensas devem atingir cerca de 150 aliados de “infiéis” e beneficiar o “Centrão”, bloco decisivo para barrar a denúncia na Câmara dos Deputados.
A delação deve ser usada na segunda denúncia que Janot pretende apresentar contra Temer antes de deixar o cargo, em 17 de setembro. Na segunda-feira (28), antes de viajar à China, Temer disse a ministros que, com a saída do procurador-geral, “as coisas voltarão ao normal”.
Para o Planalto, a decisão desta quarta-feira (30), de Fachin de devolver a delação de Funaro foi uma “prova” de que Janot age de forma precipitada. Embora a defesa de Temer tenha pedido a suspeição de Janot, o governo já esperava a recusa de Fachin. A medida foi uma forma de marcar posição e manter as críticas ao PGR.
Em conversas reservadas, Fachin tem dito que não vai apressar a homologação do acordo. Apesar de ganhar tempo, o Planalto já se prepara para quando a delação de Funaro vier à tona. Preso desde julho de 2016 e conhecido como operador de propinas do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Funaro mandou recados de que não pouparia nenhum cacique do PMDB.
Para o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), também denunciado por Janot, Temer não tem com o que se preocupar. “Quem tem de pôr 342 votos é a oposição”, disse Jucá, referindo-se aos votos necessários para que a Câmara autorize o prosseguimento da denúncia. Para o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), outro alvo da Lava Jato, Temer continuará “sangrando” até 2018.
O deputado Marcos Rogério (DEM-RO) é o preferido do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para relatar uma eventual segunda denúncia.
Estadão